Órgão dá aval a proposta de Maduro para Constituinte
Dias após a explosão que deixou 22 mortos em Manchester, um enxame de abelhas tomou a cidade como uma migração inesperada.
Os insetos foram tatuados em dezenas de moradores durante uma ação para arrecadar fundos para s vítimas do atentado de segunda-feira (22). Artistas cobraram cerca de R$ 200 pelos traços.
A abelha operária é um dos símbolos de Manchester, representando os trabalhadores industriais pelos quais a região era conhecida no início do século 19. A cidade é lembrada também pelo sentimento comunitário, evidenciado nesta semana.
Moradores de rua estiveram entre os primeiros socorristas na Manchester Arena. Ali, eles ajudaram a remover estilhaços dos feridos.
Motoristas de táxi, por sua vez, ajudaram a levar os sobreviventes para casa. A empresa Street Cars Manchester não cobrou pelas corridas.
“O telefone tocava sem parar”, conta à Folha Sam Arshad, um dos proprietários da firma. “Disse aos motoristas que nós precisávamos ajudar aquelas pessoas.”
Neto de paquistaneses, Arshad afirma ter passado 40 horas consecutivas sem dormir. Duzentos de seus motoristas estavam nas ruas e dezenas se voluntariaram.
São esses momentos após uma crise que mostram, segundo Arshad, do que é feito um povo. Se as pessoas vão se separar ou se unir. “Nós mostramos que genuinamente somos boas pessoas.”
Na quinta (25), após um minuto de silêncio, uma mulher puxou um coro cantando “Don’t Look Back In Anger”, da banda Oasis, formada em Manchester. O título diz “não olhe para trás com raiva”.
Moradores ouvidos pela reportagem não souberam determinar por que são conhecidos como vizinhos mais prestativos, por exemplo, do que os londrinos. Talvez porque a região metropolitana da cidade tenha 2,5 milhões de habitantes, em vez dos 8,6 milhões da capital.
“Somos uma cidade baseada na comunidade”, sugere Cat Nangle, 25, em uma das vigílias às vítimas nesta semana. Em parte, pelo longo histórico de migração.
Os pais de Olla al-Jibouri, 29, por exemplo, vieram do Iraque. “Temos culturas diferentes”, diz, “como um ingrediente da sociedade local”.
Mas, apesar da integração, ela se preocupa com os impactos do ataque, reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico. Al-Jibouri cobre o cabelo com véu. “As pessoas podem passar a nos ver de maneira diferente.”
Embora em número reduzido, líderes muçulmanos locais notam aumento nos crimes de ódio. Teriam cuspido em uma mulher e pedido a um homem que “voltasse a seu país”, além de tentarem incendiar um local de culto. LITTLE LIBYA Manchester é conhecida, para além da solidariedade, pela expressiva comunidade líbia, a maior do Reino Unido —e resultado das perseguições em seu país natal pelo ex-ditador Muammar alGaddafi, morto em 2011.
Os laços com o país ficaram em evidência após o terrorista ter sido identificado como Salman Ramadan Abedi, 22, filho de líbios. Seu pai e seu irmão mais novo foram detidos em Trípoli, na Líbia.
Abedi, como outros líbios, morava na região de Moss Side, em Manchester. Segundo o “Financial Times”, ao menos 16 jovens dali ingressaram no Estado Islâmico. “Não me surpreende que os responsáveis fossem líbios”, disse ao diário o jornalista líbio Reda Fhelboom. “Há muitos extremistas líbios vivendo em Manchester.” (DIOGO BERCITO)
Regras são contestadas por reitor eleitoral
A presidente do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Tibisay Lucena, manteve a proposta do presidente Nicolás Maduro para a Assembleia Constituinte, ao anunciar as bases da votação nesta quinta-feira (25).
Ela disse que a decisão era definitiva, mas os reitores ainda definirão outras regras em reunião na segunda (29). O único independente, Luis Emilio Rondón, afirma que Lucena apresentou um rascunho e que é preciso tirar regras inconstitucionais.
Lucena anunciou que a Casa para a troca da lei máxima terá 545 membros, cinco a mais que o decreto presidencial. Foram mantidas as 364 cadeiras por voto universal, mas ampliadas para 181 as dos legisladores setoriais.
Estas seriam divididas da seguinte forma: 79 para sindicatos de trabalhadores, 28 para os aposentados, 24 para o movimento estudantil e 24 para os conselhos comunitários, pró-chavismo.
Indígenas e trabalhadores rurais terão oito vagas cada. Os empresários serão representados por cinco constituintes, mesmo número de legisladores com deficiência.
No caso do voto universal, as inscrições dos candidatos serão feitas em 31 de maio e 1º de junho pela internet. Para Rondón, Lucena não deveria ter feito o anúncio.
“Antecipar informação não aprovada só cria mais dúvidas e confusão”, disse o reitor, que defende a sujeição da Constituinte a um referendo.
A oposição deverá boicotar a troca da lei máxima, que considera uma fraude. O expresidenciável Henrique Capriles ironizou Lucena pelo tempo que ela demorou para anunciar as regras. “Quando Maduro dá a ordem, ela faz tudo correndo”, disse.
Capriles aludia ao referendo que revogaria o mandato de Maduro, cujo processo levou seis meses sem definição, e às eleições estaduais, que deveriam ter sido em dezembro.
Nesta quinta, a presidente do CNE confirmou para 10 de dezembro a escolha para governador, um ano depois que o previsto. A votação municipal, que deveria ocorrer no primeiro semestre, foi adiada para o ano que vem.
A convocação de eleições é uma das cinco exigências dos opositores e da comunidade internacional. Porém, a violência na onda de protestos, que já deixou 60 mortos, e a Constituinte aumentaram a pressão por antecipar a sucessão presidencial, prevista para dezembro de 2018.