Folha de S.Paulo

Eleição 2017: mais nomes que programas

- VINICIUS TORRES FREIRE

POLÍTICA POLITIQUEI­RA é discussão de quem vai mandar e quem vai levar o quê. Mas governo não se faz assim, apenas.

Nestes dias de transição transada no caos, ainda sabe-se mais das discussões do arranjo do governo pós-Temer do que dos meios de evitar bagunça econômica que tende a complicar o mandato do presidente de 2019.

Nesta quinta (25), os tucanos maiores discutiram em São Paulo nomes para a chapa das indiretas e conversava­m com donos do dinheiro. O tucanato paulista não quer que o presidente indireto dispute as diretas de 2018. Até agora, conversa-se quase nada a respeito de como evitar o esboroamen­to da economia.

Saiu-se, por exemplo, com a ideia de lançar Tasso Jereissati para presidente, com o homem dos Três Poderes, Nelson Jobim, como vice ou, mais provável, ministro da Justiça.

Jobim foi ministro do STF, deputado e ministro de Lula e FHC. Conversa bem com a elite econômica, com dissidênci­as do PMDB e com o PT. Muita gente no Congresso, graúda e miúda, vê Jobim como um possível negociador de um acordão que separe os políticos entre podres e recuperáve­is, o grande articulado­r de um arranjo qualquer de anistia, como aquele que alivia a pena para “mero” caixa dois. Não quer dizer que ele seja assim. Mas parte do eleitorado das indiretas o vê dessa maneira.

Sabe-se algo sobre como vai ficar a administra­ção da economia? Henrique Meirelles poderia ficar no cargo, em vez do por ora rumor Armínio Fraga, dizem. Mas o buraco é mais em baixo; os tucanos sabem disso.

Há duas questões essenciais nessa transição transada bananeira. Primeiro, como fica a reforma previdenci­ária e a contenção geral de deficit e dívida. Segundo, o presidenci­ável das indiretas terá de discutir algum jeitinho para aliviar o futuro penal do núcleo do governo Temer e um jeitão de atenuar as penas dos pendurados na Lava Jato. É quase um quinto do Congresso, fora os que ainda vão rodar; é esse o eleitorado que vai escolher o próximo presidente.

Sem reforma da Previdênci­a, as contas de cobrir o deficit e rolar a dívida do governo vão ficar mais caras. Não arrebenta necessaria­mente uma recuperaçã­o econômica miúda no ano que vem, por exemplo. Mas, sem reforma agora, se coloca na sala da campanha de 2018 ou do governo de 2019 uma manada de rinoceront­es.

Primeiro, o país iria para a campanha em crise social feia, com baixo cresciment­o, depois de quatro anos de recuo do PIB per capita. Segundo, o governo estará em uma pindaíba letal. Será preciso aprovar um pacotão de impostos E reforma previdenci­ária. Será preciso amargar a pílula.

Caso proponha reformas na campanha eleitoral, o candidato a presidente terá chances reduzidas de vencer. Caso aceite reformas, mas escamoteie o assunto, haverá estelionat­o eleitoral em 2019, como em 2015, com os efeitos conhecidos, mais ou menos piores. Caso se eleja um candidato contrário a mudanças, vamos pelo menos para uma longa estagnação econômica.

Quede o programa para a eleição 2017?

Ah, convém não esquecer: é preciso que Temer caia. As articulaçõ­es para cassar a chapa DilmaTemer 2014 no TSE mal começaram. Depois, é preciso que o Supremo seja convencido, digamos, a derrubar os recursos de Temer. vinicius.torres@grupofolha.com.br

Tucanos discutem em São Paulo a chapa das indiretas, mas plano econômico sobe no telhado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil