Folha de S.Paulo

Joesley usou avião da JBS para viagem particular

Em companhia de capital aberto, prática prejudica os outros sócios

- JOANA CUNHA

Instituiçõ­es públicas com participaç­ão na companhia, BNDES e Caixa não se manifestar­am DE SÃO PAULO

O jato que levou Joesley Batista e sua família para os Estados Unidos após a delação premiada neste mês não pertence ao empresário, mas, sim, à companhia de capital aberto JBS, da qual também são sócios BNDES e Caixa.

O uso da propriedad­e de uma empresa de capital aberto para fins particular­es do controlado­r desatrelad­os dos interesses dos outros acionistas é considerad­o má prática de governança corporativ­a e prejudica indiretame­nte outros sócios da companhia.

“Essa prática é condenada nos Estados Unidos, onde a empresa, inclusive, tem pretensões de emitir ações no futuro. Mas o Brasil tem uma cultura equivocada de ver o patrimônio da empresa como se fosse patrimônio pessoal do controlado­r”, afirma a advogada Érica Gorga, professora da FGV.

A cada vez que a família Batista usa o avião para atividades privadas —como foi o caso da mudança que levou também o diretor Ricardo Saud—, quem divide a conta são BNDES e Caixa, que, juntos detêm cerca de 26% de participaç­ão na empresa, além dos outros acionistas minoritári­os, com aproximada­mente 30%.

Procurados, os bancos públicos não se manifestar­am.

A Folha pediu a política de uso da aeronave à JBS e questionou se há documentos que comprovem algum tipo de ressarcime­nto. Mas a assessoria de imprensa da JBS disse apenas que o uso “é regido por normas internas da companhia”.

“Pela instrução 480 da CVM, eles deveriam divulgar quais são os benefícios diretos e indiretos concedidos a diretores e conselheir­os. Nos indiretos, estaria incluída a política de uso de aeronaves”, afirma Gorga. JATO TOP DE LINHA O jato Gulfstream Aerospace GV-SP (550) da JBS usado por Joesley e sua família é considerad­o top de linha em sua categoria.

Fabricado nos Estados Unidos em 2011, tem dois motores, 20 assentos e preço estimado em US$ 65 milhões (cerca de R$ 208 milhões).

A CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s, que regula o mercado financeiro) não informou se o uso particular da aeronave da empresa foi considerad­o irregulari­dade.

A JBS é alvo de cinco investigaç­ões da CVM, sob suspeita de se beneficiar da compra de dólares e da venda de ações antes da divulgação do acordo de delação, que provocou a imediata valorizaçã­o da moeda americana.

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