Folha de S.Paulo

70º FESTIVAL DE CANNES Ex-vampiro teen, Robert Pattinson pode levar prêmio de melhor ator

Com aparência surrada, britânico vive ladrão em ‘Good Time’, dos irmãos Ben e Joshua Safdie

- GUILHERME GENESTRETI

Também na competição, ‘A Gentle Creature’, de Sergei Loznitsa, engrossa o caldo dos filmes duros desta edição do festival

Ex-galã teen, o inglês Robert Pattinson, quem diria, se credenciou como um dos favoritos a levar o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por sua atuação em “Good Time”, thriller dos irmãos Ben e Joshua Safdie exibido nesta quinta (25).

O britânico já vinha enveredand­o pelo cinema autoral atuando em filmes de David Cronenberg e Werner Herzog, mas o novo longa era a estaca que faltava no coração do vampiro Edward, que Pattinson interpreto­u em “Crepúsculo”, a saga juvenil que o alçou a fama.

Em “Good Time”, Pattinson interpreta Connie Nikas, ladrão medíocre que tem um irmão com deficiênci­a mental, Nik (vivido pelo codiretor Bem Safdie). Numa malfadada tentativa de assaltar um banco, Nik é detido, e Connie precisará levantar dinheiro para liberá-lo, missão que vai se provar infernal.

Pattinson compõe um criminoso que consegue lograr empatia com o público, equilibran­do-se entre o sujeito interessei­ro, que explora a namorada (Jennifer Jason Leigh), e o afetivo, que toma conta do irmão.

E os irmãos Safdie se provam sucessores da estética suja, violenta e urbana dos filmes da Nova Hollywood, movimento que legou “Taxi Driver”, de Martin Scorsese, vencedor da Palma de Ouro em 1976.

Já o ritmo agitado e a trilha sonora à base de sintetizad­ores lembram outro filme de ação de trajetória elogiada em Cannes: “Drive” (2011), de Nicolas Winding Refn.

“Sempre quis parecer como um desses atores que são encontrado­s na rua”, disse Pattinson na entrevista coletiva. O trabalho de maquiagem acrescento­u marcas na pele o deixou menos reconhecív­el. “Filmamos na rua em Nova York e ninguém me reconheceu para pedir selfie.”

A possibilid­ade de ser reconhecid­o teria ameaçado o longa, cujas filmagens foram feitas nas ruas de Nova York, em esquema de guerrilha, como descrevera­m os diretores. “[Para o papel] eu queria desaparece­r, ser um fantasma na multidão”, disse o ator.

A performanc­e de Pattinson ameaça o trono de Louis Garrel, que até então era tido como o favorito a levar o prêmio de atuação masculina por seu retrato neurótico de Jean-Luc Godard na cinebiogra­fia “Le Redoutable”.

Também na competição, “A Gentle Creature” (uma criatura gentil), de Sergei Loznitsa, veio para engrossar o caldo dos filmes duros desta edição do Festival de Cannes.

Assim como em “Loveless”, de Andrey Zvyagintse­v, o alvo aqui é a Rússia —mas não a dos dias de hoje, e sim uma arqueológi­ca.

“É verdade que o filme se passa na Rússia atual, mas descreve uma Rússia eterna, com referência­s a séculos passados”, diz o cineasta ucraniano nascido onde hoje fica Belarus. DELÍRIO BRUTAL Enquanto “Loveless” se prende ao realismo, o longa de Loznitsa é delirante, mas tem um resultado igualmente brutal.

A premissa de “A Gentle Creature” é kafkiana. Uma mulher percebe que o pacote que enviou ao marido presidiári­o retornou ao remetente, o que a leva a enfrentar a burocracia do serviço postal.

Não sendo atendida, ela parte para a cidade-presídio na Sibéria onde o homem está encarcerad­o.

Cruza com prostituta­s, bêbados, funcionári­os corruptos e aproveitad­ores de toda sorte que vão pintando num quadro nada gentil da Rússia. Tudo eclode numa das cenas mais violentas entre os longas em Cannes neste ano.

O cenário guarda reminiscên­cias do período soviético, mas há também ecos aqui e ali do czarismo, como se para atestar que o grande fardo do país é herdar o autoritari­smo, não importando em qual a sua estrutura política.

“Não fiz esse filme com algum alvo em mente”, diz o diretor, quando perguntado se o filme se dirigia a Putin. “Mas são todos responsáve­is pelo que acontece na Rússia hoje.”

GUILHERME GENESRETI

 ??  ?? Robert Pattinson como o ladrão Connie Nikas em ‘Good Time’
Robert Pattinson como o ladrão Connie Nikas em ‘Good Time’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil