Folha de S.Paulo

Tribunal reverte decisão e absolve Vaccari

Juízes do TRF-4 revisam sentença de Sergio Moro e entendem que delações são insuficien­tes para condenação

- JOSÉ MARQUES CATIA SEABRA MÔNICA BERGAMO

Advogado Luiz Flávio Borges D’Urso diz que ‘justiça foi realizada’; petista foi condenado em mais quatro ações FOLHA

O TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, absolveu o extesourei­ro do PT João Vaccari Neto da condenação pelo juiz Sergio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção.

Esse é o primeiro processo contra Vaccari que passa pelo crivo da segunda instância. Ele foi condenado em outras quatro ações por Moro.

A decisão foi tomada por dois dos três juízes que compõem a corte, Leandro Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus. O relator, João Pedro Gebran Neto, pediu a condenação de Vaccari.

Paulsen e Laus entenderam que as provas do caso são insuficien­tes porque eram baseadas apenas em delações premiadas. O entendimen­to poderá ser usado como precedente para outras decisões.

Gebran entendia que a multiplici­dade de delações poderia servir como prova para condenação.

“A justiça foi realizada, porquanto a acusação e a sentença basearam-se, exclusivam­ente, em palavra de delator, sem que houvesse nos autos qualquer prova que pudesse corroborar tal delação”, disse o advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que representa Vaccari. “Vale dizer, a lei proíbe condenação baseada exclusivam­ente em delação premiada, sem que existam provas a confirmar tal delação e foi isto que havia ocorrido neste processo”.

Em sua decisão, de setembro de 2015, Moro cita falas de cinco delatores para condenar Vaccari: Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras), Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras), Alberto Youssef (doleiro), Augusto Mendonça (executivo da Toyo Setal) e Eduardo Hermelino Leite (ex-vice-presidente da Camargo Corrêa).

“Os depoimento­s incriminat­órios, consideran­do ape- nas os colhidos nestes autos, provêm não de um, mas de cinco colaborado­res (...), formando um todo coerente”, disse Moro na sentença.

Vaccari está preso na região metropolit­ana de Curitiba. D’Urso ainda não sabe se ele poderá ganhar liberdade.

A absolvição foi comemorada pelo ex-presidente do PT, Rui Falcão. “Vaccari absolvido! Vitória do PT e da verdade. Ninguém pode ser condenado sem provas”, disse.

De acordo com a sentença de primeira instância, Vaccari teria articulado repasses de ao menos R$ 4,3 milhões da propina para o PT em contratos das diretorias de Abastecime­nto e Serviços da Petrobras, inclusive por meio de doações oficiais.

Para Moro, havia coincidênc­ia entre as doações e os pagamentos da Petrobras ao consórcio Interpar, um dos contratado­s.

O entendimen­to da segunda instância servirá para o julgamento de casos similares da Lava Jato, inclusive por Moro, segundo Thiago Bottino, advogado e professor de direito da FGV-Rio.

“O recado que os juízes deram é que delações não bastam”, afirmou.

No mesmo processo, a pe- na de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, foi duplicada de 20 anos e oito meses para 43 anos e nove meses de reclusão.

O advogado de defesa, Antônio Augusto Figueiredo Basto, diz que a pena é desproporc­ional e irá recorrer. Especialis­ta em delações premiadas, Basto assumiu a defesa de Duque este mês.

O operador Adir Assad, que também respondia à ação, continuou com pena de nove anos e dez meses.

Outros dois réus no processo, Sônia Mariza Branco e Dario Teixeira Alves Júnior, tiveram penas reduzidas. Condenação: Corrupção passiva, por recebiment­o de propina em contrato da Schahin com a Petrobras Pena: Cinco anos de prisão 4 Condenação: Corrupção passiva, por acertar propinas da Kepper Fels em contratos com a Petrobras para os marqueteir­os João Santana e Mônica Moura Pena: Dez anos de prisão 5 Condenação: Corrupção passiva, em contratos da Odebrecht com a Petrobras Pena: 4 anos e 6 meses de prisão

 ?? Paulo Lisboa - 25.jan.2016/Brazil Photo Press/Folhapress ?? Ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto chega à Justiça Federal de Curitiba para ser interrogad­o pelo juiz Sergio Moro
Paulo Lisboa - 25.jan.2016/Brazil Photo Press/Folhapress Ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto chega à Justiça Federal de Curitiba para ser interrogad­o pelo juiz Sergio Moro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil