Folha de S.Paulo

EUA acusam Síria de tramar ataque químico

Governo Trump diz que retaliará caso suposto plano seja levado adiante; regime Assad nega ter armas químicas

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Rússia e Irã condenam ameaça americana; Casa Branca não dá detalhes a respeito de movimentaç­ão suspeita

A Casa Branca acusou o regime do ditador sírio, Bashar al-Assad, de estar preparando um novo ataque com armas químicas e disse que Damasco “pagará um preço alto” se levar o plano adiante.

Em comunicado lacônico divulgado na noite de segunda-feira (26), o governo de Donald Trump afirma ter identifica­do “possíveis preparaçõe­s” para um ataque químico que “provavelme­nte resultaria no assassinat­o em massa de civis, inclusive de crianças inocentes”. Horas depois, o Departamen­to da Defesa repetiu a acusação.

Para o governo americano, as atividades se assemelham às que precederam o ataque químico de 4 de abril, que resultou na morte de 89 pessoas e que Washington atribuiu ao regime, tendo lançado em resposta seu primeiro ataque contra alvos do Exército sírio.

“Se Assad conduzir outro ataque [que culmine em] assassinat­o em massa com armas químicas, ele e seu Exército pagarão um preço alto”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer.

O porta-voz não deu detalhes, porém, do plano para uma retaliação americana nem de quais movimentos do regime teriam sido identifica­dos como suspeitos.

Mas a ameaça pode sinalizar um maior envolvimen­to iminente dos EUA em uma guerra civil entre regime, facções rebeldes e milícias terrorista­s que já se arrasta há mais de seis anos, deixou 320 mil mortos, expulsou 1/4 da população do país e atraiu, além de potências regionais como Turquia e Irã, a Rússia.

Aliada do regime Assad —o ditador deixou-se fotografar nesta terça em um caça russo— Moscou chamou o recado dos EUA de “inaceitáve­l”.

“Não estou ciente de nenhuma informação sobre uma ameaça de que armas químicas podem ser usadas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Consideram­os tais ameaças à liderança legítima da República Árabe da Síria inaceitáve­is.”

O Irã também elevou o tom. O chanceler Mohammad Javad Zarif acusou os americanos de uma “escalada perigosa” baseada em pretextos que “serviria apenas para ajudar o Estado Islâmico no momento em que ele está sendo expulso pelas populações do Itaque e da Síria”.

Assad nega as acusações de que suas forças tenham usado armas químicas contra a cidade rebelde de Khan Sheikhun em abril e afirma que a notícia foi inventada.

O Exército sírio, na época, alegou que as mortes por asfixia com gases tóxicos, documentad­as em uma série de fotos e vídeos, teriam sido causadas por um ataque a um armazém onde forças rebeldes guardavam armas químicas, cujo uso é proibido pela lei internacio­nal.

A Síria diz ter entregado em 2013 todas as armas químicas que tinha após um acordo negociado com a Rússia e chancelado por resolução do Conselho de Segurança da ONU para evitar a ameaça de um ataque dos EUA.

À agência de notícias Associated Press, o ministro da Reconcilia­ção Nacional da Síria, Ali Haidar, afirmou que as acusações descortina­m uma nova campanha diplomátic­a contra a Síria na ONU. BOMBARDEIO Nesta terça (27), a ONG Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Loncres, afirmou que ao menos 57 pessoas morreram em um bombardeio da coalizão liderada pelos EUA contra uma prisão da facção terrorista Estado Islâmico na Síria.

“O bombardeio teve como alvo uma prisão do EI na cidade de Mayadin na manhã de segunda, provocando a morte de 42 civis detidos e 15 jihadistas”, afirmou à agência France Presse o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.

Os corpos foram estendidos na rua, segundo Rahman.

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Sana/Reuters Em foto oficial, o ditador Bashar al-Assad inspeciona caça SU-35 em base aérea russa em Hmeymim, no oeste da Síria

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