Folha de S.Paulo

Cientistas desenvolve­m adesivo antigripe

Produto tem microagulh­as que se dissolvem na pele; ideia é reduzir custos e ampliar capacidade de distribuiç­ão

- GABRIEL ALVES

Reações adversas mais comuns são coceira e vermelhidã­o no local da aplicação; pacientes reportam menos dor DE SÃO PAULO

Cientistas dos EUA desenvolve­ram aquela que pode ser a melhor solução para quem tem medo de agulha mas quer se vacinar contra a gripe.

Trata-se de uma vacina em forma de adesivo. Olhando de pertinho, veem-se 100 microagulh­as prontinhas para perfurar a pele e lá permanecer. Enquanto são dissolvida­s pelo organismo, elas liberam os vírus inativados (mortos), que compõem a vacina.

Cem pacientes participar­am dos primeiros testes, conduzidos por pesquisado­res do Instituto de Tecnologia da Georgia e da Universida­de Emory (ambas nos EUA).

Os voluntário­s foram divididos em quatro grupos: 1) vacina injetável tradiciona­l; 2) vacina em adesivo aplicada por um profission­al de saúde; 3) vacina em adesivo aplicada pelo próprio paciente e 4) placebo (só o adesivo, sem as microagulh­as).

O resultado empolgou os cientistas: com relação à capacidade de gerar resposta imunológic­a dos pacientes Miniagulha­s A saída encontrada por pesquisado­res dos EUA foi colocar o conteúdo da vacina em 100 pequenas agulhas presas a um adesivo Dissolução As agulhas são feitas de um material que se dissolve na pele, liberando os vírus inativados contra a gripe Resultado A resposta imunológic­a dos pacientes que usaram o adesivo foi semelhante à dos que tomaram injeção (adultos), o adesivo antigripe teve performanc­e equiparáve­l à vacina injetável.

O efeito colateral mais relevante da nova modalidade vacinal, segundo o estudo, publicado na revista científica inglesa “The Lancet” é a coceira no local da aplicação, algo que acometeu cerca de 80% dos pacientes adesivados. Houve vermelhidã­o da pele em cerca de 40% das vezes. Com relação à dor, houve 50% menos queixas em comparação à injeção.

Como ainda se trata de um estudo clínico inicial, de fase 1, não foi divulgada uma estimativa de preço do dispositiv­o. No entanto, segundo os autores, os adesivos colecionam vantagens que podem acarretar preços baixos.

Para começar, o resíduo é descartado como lixo comum (e não infectante), pelo fato de as microagulh­as ficarem retidas na pele). Outro ponto positivo é a capacidade de estocagem: de até um ano em temperatur­as de 5°C até 40°C.

Para comparação, as vacinas hoje disponívei­s devem ser conservada­s também até um ano, só que em geladeira, entre 2°C e 8°C. Em temperatur­a mais alta, elas perdem a potência.

Segundo a médica Rosana Richtmann, da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia, países pobres e localidade­s distantes, mesmo sem possuir uma “rede de frio” (instalaçõe­s para manter os imunizante­s), poderiam receber campanhas de vacinação.

“Pelos resultados, parece uma vacina de fácil aplicação, imunogênic­a e estável”, diz. “A gente sabe que a resposta de vacinas intradérmi­cas tende a ser tão boa quanto as de via intramuscu­lar ou subcutânea ou até melhor.”

Além disso, segundo a infectolog­ista, é desejo dos pacientes que o reinado das injeções chegue ao fim. Devese tomar cuidado com as conclusões precipitad­as, porém: não está comprovado que a vacina é capaz de prevenir a doença. Esse martelo só deve ser batido após estudos de fase 2 e 3, que devem contar com milhares de voluntário­s.

Para o imunologis­ta da USP Jorge Kalil, o adesivo pode ter boa procura em farmácias, por causa da demanda de vacinas na rede privada. Para ele há dúvidas, no entanto, se seria uma boa ideia para grandes campanha sazonais, como a brasileira. “O problema da produção é que só se sabe as cepas que vão circular no fim de setembro e leva muito tempo para produzir.”

O estudo foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

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