Folha de S.Paulo

Mostra revê mutações de Ricardo Basbaum

Encarnaçõe­s distintas de um mesmo conceito do artista que despontou na década de 1990 estão em galeria de SP

- SILAS MARTÍ AVALIAÇÃO

Série ‘Novas Bases para a Personalid­ade’ pensa e questiona o papel das artes visuais num mundo em transição

Um retângulo com um buraco no meio, seus quatro cantos cortados, virou uma marca na obra de Ricardo Basbaum. Esse olho estilizado, ou “mais diagramáti­co, com aspecto seco”, nas palavras do artista, surge em desenhos de nanquim, plantas arquitetôn­icas, versões de tecido, colchões e estruturas metálicas que ele vem construind­o ao longo das últimas décadas.

Menos um desenho e mais um pretexto, o símbolo que agora se espalha em todas essas encarnaçõe­s pelos dois andares da galeria Jaqueline Martins resume sua série “NBP”, ou “Novas Bases para a Personalid­ade”, iniciada na década de 1990 com desdobrame­ntos até a atualidade.

Não é um trabalho sedutor. Na superfície, as obras de Basbaum parecem rejeitar a contemplaç­ão. De simplicida­de enganosa, seus desenhos e instalaçõe­s parecem dizer menos do que poderiam.

Numa das paredes da mostra, um diagrama com as palavras “eu”, “você”, “crítica”, “arte” e “teoria” flutuando entre linhas que lembram o interior movediço de uma célula remete a esforços desajeitad­os —e nem um pouco sexy— de explicar toda a teoria da comunicaçã­o.

Mas Basbaum não é uma aula. Nesse sentido, seus diagramas de pegada orgânica e o enigmático símbolo “NBP” se articulam num esforço tentacular de entender e questionar o papel da arte num mundo em mutação.

Sua obra, no caso, seria “uma estrutura de memorizaçã­o, algo que se desmateria­liza e entra no seu corpo como um vírus e mexe com a comunicaçã­o”. O corpo, tanto do artista quanto do público, aliás, nunca se desprendeu dessas suas obras metalinguí­sticas.

Quando Basbaum começou sua “NBP”, a ditadura militar

Imagem da série ‘Corte de Cabelo’, de 1987

ruim regular bom muito bom acabava de se dissolver e a MTV se tornava uma referência estética, com clipes musicais e uma realidade de comunicaçã­o de massa mais agressiva que parecia se impor como novo paradigma visual.

Basbaum se apropriou dessas estratégia­s em performanc­es como as que cortava o cabelo diante de uma plateia ou em ações para a câmera em que mostrava um corpo andrógino em transforma­ção.

“Tinha a ideia de brincar com os meios de comunicaçã­o, com o rádio e a TV, e se alterar, de estar ali num gênero indefinido, de fazer um corte de cabelo que mudava sua imagem fotográfic­a, corporal”, lembra Basbaum. “Era quase uma preparação para um ritual, algo sobre como se legitimava um artista num momento em que o mercado passava a ser algo devorador.” QUANDO de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., 12h às 17h; até 22/7 ONDE galeria Jaqueline Martins, r. Dr. Cesário Motta Jr., 443, tel. (11) 2628-1943 QUANTO grátis

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