Folha de S.Paulo

PSB vive crise de identidade 3 anos após morte de Campos

Morte do presidenci­ável completa três anos e ainda deixa vácuo de comando

- JOSÉ MARQUES THAIS BILENKY

Na iminência de uma debandada, legenda tem disputa entre ala de esquerda e nomes mais pragmático­s

Com o vácuo de liderança deixado pelo presidenci­ável Eduardo Campos, cuja morte completa três anos no domingo (13), o Partido Socialista Brasileiro se vê na iminência de uma debandada, às voltas com divergênci­as internas e discordânc­ias sobre os rumos programáti­cos.

Agregador e com visibilida­de, Campos atraiu nomes dificilmen­te identificá­veis com a bandeira socialista e que hoje puxam a fila de dissidênci­as —com Heráclito Fortes (PI) à frente, mais de dez deputados dizem estar com “a faca nas costas” e devem migrar para o DEM.

Ruralistas filiados por Campos hoje batem cabeça com “socialista­s históricos” como o presidente da sigla, Carlos Siqueira, em debates como o das reformas econômicas. A decisão de votar a favor da denúncia contra Michel Temer coroou a divisão pessebista na Câmara.

No dia 2, a líder Tereza Cristina (MS) orientou a bancada a votar pelo prosseguim­ento da ação, mas antecipou que votaria de forma diferente. Por fim, a sigla deu 22 votos a favor da denúncia e 11 contra.

O clima entre a direção e os deputados já estava azedado. Na véspera, Siqueira enviara carta a Cristina, com cópia a todos os deputados, dizendo que, se ela estivesse constrangi­da, que repassasse “encarecida­mente” a tarefa a um vice-líder. “Achei meio machista”, ela reagiu.

Emabril,adeputadaj­áhavia sido destituída por Siqueira da presidênci­a do diretório do PSB em Mato Grosso do Sul ao liberar o voto da bancada na reforma trabalhist­a, mesmo após o PSB decidir que se oporia ao texto.

A reunião que definiu a posição foi tensa, com discussões exaltadas entre Siqueira e os ruralistas.

O presidente se diz parte da “ala ideológica” do partido, que tenta preservar a memória de Miguel Arraes (19162005) e o programa histórico do PSB. Ele afirma que não quer passar “como leniente”.

“O DNA do PSB é de esquerda, não tem como mudar. Mas a gente pode encontrar o equilíbrio”, diz Jonas Donizette, prefeito de Campinas (SP) e presidente da Frente Nacional de Prefeitos.

Para ele, o partido precisa se modernizar. “O estatuto fala em desapropri­ação de terra. Nem a China comunista tem isso mais! Às vezes parece um dogma, é como se estivesse ferindo as memórias dos antigos líderes.”

No aniversári­o de 70 anos do PSB na quinta (10), Siqueira pregou “coerência”, chamou a reforma da Previdênci­a de “insanidade” e disse que “não se pode discordar do ideário de um partido em que se entra”. Apesar de a cúpula da legenda estar presente, líderes da Câmara e Senado faltaram ao encontro. DIREÇÃO Sem Campos, o comando pessebista passou a ser disputado, de um lado, pelo grupo ligado ao ex-governador, que inclui Siqueira e o atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e de outro, pelo vice-governador de São Paulo, Márcio França.

O paulista, favorável à incorporaç­ão de quadros não necessaria­mente identifica­dos com as bandeiras tradiciona­is do PSB, ganha força com a perspectiv­a de assumir o governo de SP após eventual renúncia de Geraldo Alckmin para a eleição de 2018.

“O ideal seria todo mundo pensar igualzinho, mas não vejo como isso pode acontecer”, diz França. “Se quiser ser grande, o partido não pode ser 100% homogêneo.”

Ele reconhece que a ausência de Campos “é uma avalanche”. E defende a aliança com Alckmin em eventual candidatur­a à Presidênci­a, após anos de apoio ao PT. “O PSB manteve a posição, quem mudou foi o PT”, justifica.

Correligio­nários da Bahia, Paraíba e Amapá não pensam assim. Esses diretórios devem se aliar à chapa petista em 2018. A senadora Lídice da Mata (BA), por exemplo, diz que “não vê” o partido com Alckmin e que se a direção tivesse fechado questão em 2014 pelo apoio a Aécio, seu grupo sairia do partido.

No RS, Beto Albuquerqu­e, vice de Marina Silva em 2014, quer se lançar a presidente. “É importante que o PSB expresse seu pensamento.”

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Humberto Pradera - 5.mar.2015/PSB Carlos Siqueira, que assumiu a presidênci­a do PSB em 2014

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