Folha de S.Paulo

Escândalo do mensalão volta a rondar siderúrgic­a Usiminas

Contratos da empresa estão na delação de Valério, pivô do caso; acusado é membro de conselho da empresa, que nega acusações

- CAROLINA LINHARES

Se a delação do publicitár­io Marcos Valério, assinada no mês passado, trouxe novamente à tona a ligação entre a Usiminas e o pagamento de caixa dois, as conversas sobre o esquema já vinham sendo reavivadas entre funcionári­os e investidor­es da siderúrgic­a há mais de um ano.

Em março de 2016, o sindicalis­ta Luiz Carlos de Miranda Faria, acusado pela CPI dos Correios de ter sacado R$ 68.541,84 do “valeriodut­o” em 12 de agosto de 2004, foi eleito para o Conselho de Administra­ção da empresa.

No relatório da CPI, que investigou o mensalão, o nome de Miranda aparece entre os eventuais prestadore­s que sacaram dinheiro da SMP&B, de Valério, sem que tivessem seus serviços comprovado­s. O sindicalis­ta foi apontado como intermediá­rio dos recursos para o PTB.

Segundo a delação de Valério e a CPI, um contrato de publicidad­e da siderúrgic­a com a agência SMP&B abasteceu campanhas de 1998 a 2004.

O relatório da comissão identifica R$ 2,9 milhões em pagamentos da empresa à agência, em agosto e setembro de 2004. Os saques, no período, totalizam quase R$ 2 milhões.

Miranda, atual conselheir­o da Usiminas, foi deputado estadual pelo PDT-MG e é secretário-geral do Solidaried­ade no Estado. Um dos fundadores da Força Sindical, ele comandou o Sindicato dos Trabalhado­res Metalúrgic­os de Ipatinga (Sindipa).

O sindicalis­ta era próximo de Rinaldo Soares, presidente da empresa à época do esquema e morto em 2011. Atualmente tenta criar um novo sindicato em Ipatinga.

O fato de Miranda ocupar um cargo estratégic­o gerou incômodo e questionam­ento no ambiente interno da Usiminas. Além de compor o colegiado de 11 pessoas que define os rumos da empresa, ele também acompanha o atual presidente, Sérgio Leite, em diversos compromiss­os. OUTRO LADO Miranda disse à Folha que “não conhece Marcos Valério” e que “não cometeu ilegalidad­e”. Afirmou que ficou surpreso ao ser citado na CPI e que sacou a quantia no Banco Rural por orientação da direção da Usiminas.

“O sindicato recebeu uma ajuda da Usiminas, como sempre fez, para fazer o 1º de Maio. Esse dinheiro foi tirado do Banco Rural e entrou na contabilid­ade do sindicato, que foi registrada em cartório. Levei toda a documentaç­ão à CPI e à Polícia Federal”, diz.

Em nota, a Usiminas afirmou que os fatos “ocorreram há cerca de 20 anos, sendo que nenhum administra­dor da companhia à época é administra­dor da atualmente”.

Sobre a delação de Valério, a empresa diz que não teve acesso aos documentos e desconhece os fatos.

“A Usiminas reitera seus elevados padrões de governança e compliance, que garantem a total observânci­a da legislação brasileira anticorrup­ção”, afirma a nota.

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