Folha de S.Paulo

Parcialmen­te. Quando fechou

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Folha - É proporcion­al o recurso desviado em corrupção que está voltando a acionistas da Petrobras no Brasil e fora?

Érica Gorga - Não. A Petrobras recebeu até agora R$ 716 milhões recuperado­s pela Lava Jato. Mas até agora não foi noticiado pagamento relevante de indenizaçã­o a acionistas minoritári­os no Brasil. Zero.

O dinheiro devolvido pela Lava Jato fica na Petrobras e não retorna aos lesados finais, que são seus minoritári­os incluindo Previ. O irônico é que, nos EUA, ela já se compromete­u a pagar US$ 445 milhões só em acordos de indenizaçã­o de alguns acionistas individuai­s, quantia bem superior aos valores recuperado­s. Isso afeta a economia e o mercado de capitais do Brasil?

Seriamente. É um mercado no qual as companhias listadas no melhor segmento de governança corporativ­a da Bolsa perpetram ilícitos e não são obrigadas a indenizar investidor. A maioria dos investidor­es escolhe ir para mercados como EUA e Ásia. Os que ficam passam a descontar o preço de todas as ações pelo risco da inseguranç­a jurídica.

Reduz a capacidade de financiame­nto. A falta de segurança quanto aos direitos de acionistas afugenta investidor­es do Brasil. Além disso, fundos de pensão, para fechar as contas dos deficit da má gestão e corrupção, repassam as contas aos funcionári­os beneficiár­ios na ativa e pensionist­as, que são as partes mais fracas. Como fortalecer o mercado de capitais brasileiro? minoritári­os. A Lava Jato só tem priorizado a proteção do investimen­to do Estado, o que chamo de “petromonia­lismo”. Protege a União, acionista controlado­ra que, via presidênci­a da Petrobras, foi no mínimo conivente com o perpetuame­nto dos ilícitos. o acordo da JBS, o Ministério Público Federal fez alocação dos valores que a JBS vai pagar. Vai retornar para BNDES, Caixa, União, Funcef e Petros. Funcef e Petros receberão R$ 1,75 bilhão cada um de ressarcime­nto pelas irregulari­dades da JBS. Mas não se sabe se os valores repõem os prejuízos. E os recursos auferidos pela leniência são distribuíd­os de modo a privilegia­r certas instituiçõ­es em detrimento, novamente, dos minoritári­os da JBS, que investiram na empresa e sofreram perdas com a propina e corrupção.

Ao inviabiliz­ar o processame­nto das ações criminais contra a empresa, devido à leniência, os procurador­es matam a possibilid­ade de ações de indenizaçã­o dos minoritári­os

Ela corrobora a acusação de que houve esquema institucio­nal de corrupção, não só no nível de diretoria e gerência mas também na presidênci­a da Petrobras e derruba o argumento de que a empresa é vítima, e não responsáve­l, pela corrupção. Por que no Brasil não há ações civis públicas no caso Petrobras? Na JBS há intenções sem nada concreto. Falta reação?

Os minoritári­os não têm conseguido se organizar porque a lei brasileira, diferentem­ente da americana, exige o ingresso da ação através de associaçõe­s, criando custo burocrátic­o à propositur­a.

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