Culturais [...] registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro”.
DE RIBEIRÃO PRETO
Arenas com pasto separado para bois, limpo, com sombra, água potável e pista com areia em quantidade adequada, para os touros pularem soltos. Animais preservados, que só chegam às provas momentos antes, para não se estressarem com a iluminação e o barulho característicos das festas de peão no país.
Para rebater críticas aos rodeios, donos de boiadas se uniram para criar regras para eventos “padrão Fifa” em relação ao bem-estar animal.
O formato tem como principal cenário a ser colocado à prova a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (a 423 km de São Paulo), que abre sua 62ª edição a partir da próxima quinta-feira (17).
Criada há três anos, a ABTR (Associação Brasileira dos Criadores de Touros de Rodeio) tem hoje cerca de 40 tropeiros, que reúnem 1.800 touros.
“A ideia foi exigir que eventos sigam as regras e ter uma associação para nos defender. Falam [ONGs] que touro é mal tratado e era cada um por si, não tínhamos união. Agora temos condutas e regras”, disse o tropeiro Paulo Emilio Marques, presidente da ABTR e que teve em seu plantel o lendário touro Bandido, que morreu de câncer em 2009 e ganhou fama nacional na novela “América” (2005).
De acordo com ele, os organizadores de rodeios precisam fornecer boas condições para os animais antes das provas, sob o risco de o evento não ser realizado.
Isso inclui horário para começar e terminar as disputas, a chegada dos animais aos locais pouco antes das montarias —em vez de aguardarem por horas a fio a sua vez de entrar nas arenas— e a permanência num pasto à parte, para descansarem.
O crescimento da ofensiva dos criadores de touro coincide com a aprovação da PEC 304, que definiu não considerar “cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações MAUS-TRATOS mo rodeios e vaquejadas, causam maus-tratos aos bichos e deveriam ser banidas.
Elas afirmam que os touros só pulam por sofrerem tortura com o sedém (cinta de lã colocada na virilha dos animais) preso aos testículos e choques elétricos antes das montarias e por ficarem estressados devido à iluminação e ao barulho das arenas.
“Qualquer medida que tomem será paliativa, para tentar nos calar. Muitas provas são de perseguição a animais e isso, por si só, já é uma tortura. Nenhum animal entra numa arena em fuga se não sofrer antes”, afirmou Vanice Orlandi, presidente da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais).
Segundo ela, a crueldade é inerente aos rodeios e vaquejadas e o tipo de solo das arenas não muda isso.
“Se o animal vai cair na areia fofa ou não, não importa. O certo é que ele não seja perseguido e jogado ao chão.”
Paulo Emilio diz que o sedém é só um estímulo e não agride o animal. “Ele gera um incômodo, apenas para dar estímulo. Machucar, como falam, é outra coisa, bem diferente. Um jóquei usa chibata na mão, mas apenas para estimular, não para machucar o cavalo nas provas”, afirma.
A Festa do Peão de Boiadeiro acontecerá entre os dias 17 e 27 de agosto, no Parque do Peão, em Barretos.
Os ingressos custam entre R$ 20 e R$ 1.200. As provas são realizadas no estádio de rodeios projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012).