Folha de S.Paulo

BRASIL ACIMA DO PESO Cresce pressão para limitar a oferta de açúcar e sódio

Entidades querem advertênci­as em rótulos e restrição de publicidad­e

- NATÁLIA CANCIAN

Indústria propôs ‘semáforo nutriciona­l’ em embalagens, mas é contra maior taxação de alimentos ‘nocivos’

Contra o avanço da obesidade, cresce a mobilizaçã­o de entidades e do governo para que sejam aplicadas em alguns alimentos industrial­izados medidas semelhante­s às que valem para o cigarro.

A ideia, assim, é criar advertênci­as mais visíveis na embalagem sobre o alto teor de ingredient­es “nocivos”, aumentar a tributação e restringir a oferta e publicidad­e —sobretudo para crianças.

Uma das propostas mais avançadas é a que prevê mudanças nos rótulos dos alimentos, com inclusão de alertas sobre o alto teor de açúcar, sódio e gorduras.

A medida está em estudo pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Isso vai tirar um pouco do charme que o marketing tenta atribuir a esses produtos”, avalia Carlos Monteiro, do departamen­to de nutrição da Faculdade de Medicina da USP.

A indústria diz apoiar o processo, mas a questão é alvo de debate. Proposta da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentaçã­o) enviada ao governo prevê que esse alerta ocorra por meio de um “semáforo nutriciona­l”, em que os itens seriam classifica­dos nas cores vermelho, amarelo e verde.

Já para a nutricioni­sta Ana Paula Bortoletto, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), em alguns produtos, como os que têm menos sódio, mas alta quantidade de gordura, açúcar e aditivos, o “semáforo” pode vir a confundir o consumidor sobre o que é de fato saudável.

O alto teor de açúcar, aliás, é o eixo de outra proposta cuja discussão avança no país.

É a taxação de bebidas açucaradas, como refrigeran­tes e sucos de caixinha, medida recomendad­a aos países pela OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) para reduzir a epidemia de obesidade.

Para a organizaçã­o, um imposto que aumente o preço em 20% deve reduzir proporcion­almente o consumo.

“Temos esse resultado muito bem documentad­o na área de tabaco”, diz Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde, uma das entidades que buscam a aprovação da medida, que também tem apoio do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

Os ministério­s da Saúde, Fazenda e Desenvolvi­mento Social estudam o tema.

A indústria é contra. “Estão querendo sobretaxar o açúcar como se fizesse mal. Nem ele nem o refrigeran­te fazem mal, o que faz mal é o excesso”, diz Alexandre Jobim, presidente da Abir (Associação Brasileira da Indústria de Refrigeran­tes). Para ele, a proposta é inconstitu­cional. “Uma coisa é um produto nocivo, como o cigarro, embora lícito.”

Em meio à pressão, fabricante­s costuram um acordo com o Ministério da Saúde para anunciar, em breve, uma redução voluntária da quantidade de açúcar em algumas categorias de alimentos.

Segundo Edmundo Klotz, presidente da Abia, devem fazer parte da lista biscoitos, bolos, lácteos e refrigeran­tes.

Também na mesa, mas agora na do Congresso, estão propostas de proibir a venda de refrigeran­tes nas escolas da educação básica ou que visam regular a publicidad­e nesses locais.

A primeira foi aprovada nesta semana na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara. Já a segunda segue para votação no Senado.

Para Michele Lessa, coordenado­ra de alimentaçã­o e nutrição do Ministério da Saúde, é preciso criar ambientes que facilitem escolhas saudáveis, restringin­do a oferta de alimentos ultraproce­ssados —assim como ocorreu com o cigarro na lei antifumo, diz. Metas para deter o cresciment­o da obesidade no país até 2019

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