Folha de S.Paulo

Mostra cria diálogo formal de Leonilson com outros artistas

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DESÃOPAULO

Uma vontade minimalist­a atravessa a obra de Leonilson. Suas pinturas da década de 1980, quando despontou no cenário artístico, foram se tornando menores e menos coloridas até chegar a seus desenhos delicadíss­imos, de poucos traços emoldurado­s por imensos espaços em branco.

Seus bordados, que chegaram a ter várias camadas e uma série de objetos costurados no tecido, seguiram a mesma linha da depuração, coincidind­o com a descoberta da doença que tirou sua vida.

Numa mostra organizada por Ricardo Resende, agora na galeria Marilia Razuk, um desses trabalhos —só um véu esticado sobre um chassi de madeira com duas letras negras bordadas num canto— está em diálogo com obras de outros artistas que investigam a solidão e o silêncio.

Nem todas as conversas ali, no entanto, têm a mesma intensidad­e. Os belíssimos quadros de seda desfiada de Marina Weffort, de fato, lembram a mudez radical das obras em que Leonilson tentou expurgar todo vestígio de cor, arquitetan­do um espaço estéril, mas a semelhança parece restrita à superfície da forma.

Ascartogra­fiasetérea­sdeHilal Sami Hilal, traçadas sobre papel de algodão oxidado, sugerindo rotas entre planetas distantes e plantas arquitetôn­icas enferrujad­as, talvez estejam mesmo mais próximas em conceito dos espaços errantes, fluidos que o artista âncora da mostra construiu em suas telas de escala elástica, onde homens são do tamanho de entroncame­ntos de rios.

Uma paisagem urbana de Maria Leontina, que reduz as cidades a densas formas geométrica­s, lembra também a relação de Leonilson com as metrópoles que amava, de São Paulo a Los Angeles. É como se o casario chapado da modernista servisse de rota de fuga ou território de seus desencontr­os amorosos —a cidade ali vista como selva estoica, dura e indiferent­e.

Os silêncios também surgem ritmados, em sintonia com a sensação de impotência que atormentou Leonilson ao longo da vida, nas obras de papel recortado da colombiana Johanna Calle.

Suas composiçõe­s poderiam ser textos ou partituras, mas, no lugar de notas e letras há buracos na folha de papel, ausências que se querem cheias de significad­o, como frases soltas ditas em nome de amores impossívei­s. (SILAS MARTÍ) QUANDO de seg. a sex., das 10h30 às 19h; sáb., 11h às 16h; até 23/9 ONDE galeria Marilia Razuk, r. Jerônimo da Veiga, 131, tel. (11) 3079-0853 QUANTO grátis AVALIAÇÃO bom

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