Folha de S.Paulo

O bolo da educação

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O consenso na sociedade em torno da necessidad­e de aprimorar a educação se reflete, com nitidez, nos orçamentos governamen­tais.

Conforme números recém-divulgados pela OCDE, o ensino público recebe 5,4% da renda nacional no Brasil, acima da média de 4,8% nos 35 membros da entidade, que reúne países mais desenvolvi­dos.

A cifra, semelhante à estimada pelo governo brasileiro (5% do PIB), correspond­e ao dobro do que se aplicava no setor nos anos 1970.

Mede-se, com o cálculo do gasto como proporção do PIB, o grau de prioridade atribuído a determinad­o objetivo —que parcela dos recursos disponívei­s é direcionad­a a esta ou aquela atividade.

Por esse critério, a educação aparece como segunda maior despesa finalístic­a do Estado brasileiro, atrás apenas da Previdênci­a (não entram nessa conta os juros da dívida, encargos não finalístic­os).

Mas, se a importânci­a relativa conferida ao setor no Brasil acompanha os padrões das nações ricas, o mesmo não se pode dizer, infelizmen­te, das somas absolutas vertidas na formação de cada aluno.

O gasto médio por estudante, aqui, é de US$ 5.600 anuais, pouco mais da metade dos US$ 10.800 na OCDE, em valores ponderados pelo poder de compra das moedas. A diferença se mostra particular­mente dramática no nível fundamenta­l: US$ 3.800 contra US$ 8.700.

A explicação óbvia é que nos falta PIB —riqueza material. Mais complexo é como lidar com tal deficiênci­a. Boa parte dos militantes da educação advoga que se amplie a fatia da renda nacional a ela direcionad­a. Tal estratégia está circunscri­ta, porém, a limites severos.

Em situação normal já seria descabido expandir a despesa rumo aos 10% do PIB, meta fixada em lei. Outras áreas teriam de sofrer cortes drásticos, ou a excessiva carga tributária subiria ao insuportáv­el.

Com o atual colapso orçamentár­io, mesmo uma alta modesta do percentual soa pouco realista.

Acelerar o cresciment­o econômico é, sim, imperativo. Entretanto não se trata de, como na tese tosca atribuída à ditadura militar, fazer o bolo crescer para distribuí-lo.

Nas próprias verbas do ensino, cabe melhor distribuiç­ão, com maior ênfase no aprendizad­o básico. Nesse caso, a mudança demográfic­a do país ajuda: com a queda do número de crianças, a despesa média por aluno cresce no Brasil em taxa superior à de qualquer país pesquisado no relatório da OCDE.

Resta converter o ganho quantitati­vo em qualidade, o que passa por reformas na formação, nos salários e no regime de contrataçã­o dos professore­s da rede pública.

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