Folha de S.Paulo

A taxa de oxigênio que mata

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RIO DE JANEIRO - O governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) —caracteriz­ado por rebatizar propina como “taxa de oxigênio”— só respira por meio de aparelho. Apoios silencioso­s no aparelho judiciário asseguram que o governador do Rio de Janeiro permaneça no poder.

Faz sete meses que o Tribunal Regional Eleitoral cassou o mandato de Pezão e de seu vice, Francisco Dornelles (PP), e determinou a realização de eleições diretas no Estado.

O governador se mantém no cargo porque recorreu ao próprio TRE e depois ao Tribunal Superior Eleitoral. A ação transita em Brasília desde maio, sem sinais de que vá a julgamento. Dorme nos escaninhos esplêndido­s do ministro Luiz Fux, cuja filha foi nomeada desembarga­dora por Pezão em março de 2016.

Pezão e Dornelles foram condenados sob a acusação de abuso de poder econômico e político. De acordo com o TRE, “o governo do Rio concedeu benefícios financeiro­s a empre- sas como contrapart­ida a posteriore­s doações para a campanha eleitoral”.

A condenação cita penca de empreiteir­as que recebeu benefícios em troca de doações. Em delação, diretor da Carioca Engenharia afirmou que foi alvo de cobrança da “taxa de oxigênio” —como era conhecida a propina exigida por funcionári­os da Secretaria de Obras— dentro do comitê de campanha de Pezão.

A representa­ção aponta ainda doação a Pezão de quase R$ 7 milhões da JBS, um mês após ter recebido permissão de uso de terreno público. O padrão Joesley Batista de atuar impõe suspeição elevada à operação.

O Estado do Rio retrocedeu 20 anos em três anos de mandato de Pezão, que meteu os pés pelas mãos. A culpa maior é de seu maior aliado: Sérgio Cabral, acusado de se apropriar de mais de R$ 250 milhões em propinas.

A taxa de oxigênio da dupla Cabral-Pezão asfixiou o Rio de Janeiro. O Estado agoniza, sob a cegueira convenient­e do TSE. ANTONIO DELFIM NETTO ideias.consult@uol.com.br

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