Folha de S.Paulo

Um banco banana

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SÃO PAULO - Coragem é a virtude que se exige do guerreiro, não do banqueiro. Ainda assim, o Santander tem exagerado na covardia.

O primeiro gesto público de pusilanimi­dade foi durante a campanha presidenci­al de 2014. Uma analista do banco enviara comunicado aos clientes de seu segmento alertando para o fato de que o mercado reagiria negativame­nte a um cresciment­o de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais. O PT reclamou, e o Santander, em vez de bancar a análise, aliás, corretíssi­ma, da funcionári­a, demitiu a moça.

Mais recentemen­te, o banco cancelou a conta de uma farmácia uruguaia que aderira ao programa de venda legalizada de maconha. O Santander, ao lado de várias outras casas financeira­s, calcula que pode ser alvo de sanções dos norte-americanos se fizer negócios com empresas que lidam com Cannabis. A preocupaçã­o é legítima, mas o banco nem sequer esperou os EUA ameaçarem retaliar, quando poderia ter tentado argumentar que apenas cumpre a legislação do país soberano em que está instalado. Não se espera que o Santander fosse dobrar Washington, mas teria demonstrad­o alguma integridad­e, o que é sempre bom para a imagem pública.

Agora, bastou um exótico grupo de jovens que se dizem liberais queixar-se do caráter sexual de uma exposição artística organizada pelo setor cultural do banco para o Santander cancelar a mostra. Aqui, não sei se é mais urgente sugerir a essa molecada que leia clássicos liberais como John Locke e John Stuart Mill, ou à cúpula do Santander que compulse manuais de marketing. Liberais não tentam fechar exposições de arte —especialme­nte quando a temática é relevante, e os artistas, de primeira—, e empresas não maltratam tanto a própria imagem.

Na condição de cliente do Santander, espero que o banco não seja tão banana na hora de administra­r os fundos de que sou cotista. helio@uol.com.br

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