TRAGÉDIA A CAMINHO DA ESCOLA
Julia, 13, aguardava na calçada para atravessar a rua, quando um caminhão de bebidas tombou em cima dela
Era apenas mais um dia na rotina de Julia Fermino Rocha, 13. Seus pais a deixaram a poucos metros da escola e foram cuidar de seus afazeres. Marcos Rocha foi para o trabalho, e Luzia Fermino Rocha seguiu para a caminhada de todas as manhãs, em Parada de Taipas, na periferia da zona norte de São Paulo.
A adolescente estava parada na calçada, diante da faixa. A escola fica do outro lado da rua. Esperava o sinal verde para pedestres, quando alguém gritou: “Olha o caminhão!”. Não houve tempo.
Um veículo carregado de refrigerante tentou frear, resvalou em um carro, cambaleou e tombou. A menina ficou presa sob a cabine e morreu na hora. Três colegas de escola sofreram ferimentos leves.
Duas testemunhas disseram que ela estava com fones de ouvido no momento do acidente. “Por causa de uma negligência o meu anjo foi embora”, disse Luzia, mãe da adolescente. “Eu a admirava por ser responsável e até adulta demais para sua idade”, completou, sem parar de chorar em nenhum momento.
Um tio ouviu a notícia do acidente na TV e perguntou ao pai de Julia: “Onde você a deixou hoje cedo?”. Enquanto isso, a mãe recebia um telefonema da escola. Pediram que ela fosse até lá. “Nunca imaginei que fosse por causa disso. Pensei que era um assunto relacionado à escola mesmo”, disse Luzia.
O pai reconheceu o corpo da menina ainda na calçada da av. Raimundo Pereira de Magalhães. Ele se abaixou e deu um beijo na testa da filha. MENINA DOCE Filha única e descrita por parentes como uma menina doce, inteligente e muito responsável, Julia queria ser veterinária. “Ela estava começando a vida. A gente vê essas coisas e acha que nunca vai acontecer. Ninguém está a nada”, disse a tia Claudia Rocha. Julia costumava passar os finais de semana com os primos e a avó.
Na escola municipal Nani Benute, o clima era de tristeza. Na grade, um papel foi colado com a mensagem: “Estamos de luto”. A direção decidiu cancelar as aulas por causa do acidente, mas as crianças que chegavam para o período vespertino eram convidadas a entrar. Uma delas, que chegava de mãos dadas com a mãe, perguntou: “Mãe, o que é luto?”
No momento do acidente, ao lado de Julia, estavam na calçada Taissa Munhoz, 14, Isabela de Oliveira, 14, e Isabela Vieira, 9. Feridas sem gravidade, foram encaminhadas a um hospital da região.
No momento acidente, por volta das 7h, médicos de um pronto-socorro particular que fica em frente ao local do acidente correram para atender as vítimas. Tanto a mãe de Julia como alguns de seus parentes também precisaram de atendimento assim que souberam da tragédia. MOTORISTA O motorista do caminhão é Lucas Mota, 22. Segundo sua mãe, Francisca da Conceição, ele teve de ser medicado, pois entrou em estado de choque. “Ele viu o rosto da menina. Caiu por cima dela quando a cabine do caminhão tombou.”
Na delegacia, Mota ficou o tempo todo abraçado à filha, enquanto sua mãe tentava entrar em contato com a família de Julia para prestar solidariedade. “Somos família tamimune bém”, repetia Francisca.
No caminhão, Mota estava acompanhado de dois ajudantes e, juntos, tentaram levantar a carroceria. Amigos de infância e naturais de Osasco, na Grande São Paulo, os três trabalham numa transportadora de bebidas.
Segundo depoimento do motorista à polícia, um carro à sua frente parou bruscamente no sinal amarelo, e ele não teve tempo de frear. Bateu na traseira do veículo e jogou o caminhão para a direita, quando a mercadoria tombou. O velocímetro do caminhão indica que ele trafegava a 38 km/h no momento do acidente, abaixo do limite da via, de 50 km/h.
Uma perícia também atestou que os freios do veículo estavam funcionando bem, assim como um teste de bafômetro deu negativo para ingestão de bebida alcoólica.
O caso foi registrado como acidente de trânsito, e o motorista irá responder por homicídio culposo —quando não há intenção de matar— e por lesão corporal culposa em relação às outras vítimas.