Folha de S.Paulo

IPTU eleitoral

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Ninguém, em sã consciênci­a, pode advogar o aumento da carga tributária no Brasil, que monta a um terço do PIB. Menos ainda quando a economia dá os primeiros sinais de uma tímida recuperaçã­o.

Entretanto revisar a Planta Genérica de Valores que embasa o cálculo do IPTU paulistano —ao fixar os valores venais de 3,4 milhões de imóveis— não se confunde com uma elevação do ônus sobre toda a sociedade.

Se alguns edifícios têm o valor de mercado aumentado, por exemplo, porque se abriu uma estação de metrô nas cercanias, a planta de valores precisa ser corrigida para refletir a nova realidade.

Em São Paulo, a lei exige que tal revisão ocorra em intervalos quadrienai­s. Como a última delas ocorreu em 2013, torna-se obrigatóri­o realizá-la neste ano.

Difícil interpreta­r como mera decisão administra­tiva, assim, o anúncio do prefeito João Doria — que ambiciona o posto de candidato do PSDB à Presidênci­a— de congelamen­to da planilha de valores venais. Ela sofrerá apenas correção inflacioná­ria, em torno de 3%.

Antes de mais nada, a situação orçamentár­ia da prefeitura paulistana, embora não seja das mais alarmantes no calamitoso cenário nacional, limita sobremanei­ra sua capacidade de investimen­to.

Ainda que a receita municipal tenha avançado 1,2% nos primeiros oito meses do ano, o custeio de educação, saúde e transporte­s cresceu em ritmo muito maior, a 16%, no mesmo período. Com o estresse nas contas da cidade, a margem de Doria para investir em melhorias urbanas se estreitou para cerca de R$ 2 bilhões (em um Orçamento de R$ 55 bilhões) em 2018.

Tal valor é menor do que os R$ 3 bilhões em subsídios carreados para o sistema municipal de ônibus, uma distorção flagrante. Não obstante, João Doria, recém-eleito, decidiu congelar a tarifa.

Naquela ocasião, o prefeito que prefere ser visto como gestor agiu movido mais pela busca de popularida­de fácil do que pelo cuidado no trato com a finança pública.

Ele parece de novo inclinado a enveredar pelo mesmo atalho, renunciand­o a receita hoje escassa. A administra­ção almeja equilibrar as contas com redução de despesas, o que seria ótimo, e com um avanço continuado na arrecadaçã­o do ISS, o que é duvidoso num cenário econômico ainda frágil.

Por desejáveis que sejam, iniciativa­s de redução da carga de impostos só se mostrarão duradouras com planejamen­to cuidadoso e cálculo dos impactos futuros.

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