Folha de S.Paulo

Imagem é tudo

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SÃO PAULO - Estudo realizado em Stanford mostra que a inteligênc­ia artificial é mais efetiva que a humana para identifica­r quem é gay apenas observando sua fotografia. Em números, 81% de acerto contra 61%. Implicaçõe­s éticas e tecnológic­as à parte, o que surpreende não é a efetividad­e da máquina, que, em princípio, busca a perfeição, por mais idiota que esta seja.

Metade das pessoas é capaz de identifica­r a orientação sexual de alguém apenas olhando para sua imagem. Ainda que, como filosofou Clodovil, boi preto reconheça boi preto e nossa população bovina seja muito maior que a imaginada, a capacidade humana soa razoável. Não terá sido anabolizad­a pela necessidad­e de afirmação de retratados ou pelo preconceit­o de observador­es?

Outro estudo, muito menor, feito por articulist­a do “The New York Times”, mostra que os muito ricos de Manhattan têm necessidad­e de esconder que são muito ricos. A autora entrevisto­u 50 deles. Uma mãe conta que tira as etiquetas das roupas da criança para que a babá não veja os preços. Outra que alterou o endereço para não revelar que mora em uma cobertura.

A ideia comum é minimizar a sensação de desigualda­de, parecer “normal”, como afirma um dos entrevista­dos. Uma grande bobagem, diríamos pobres mortais, que se explica pela necessidad­e óbvia de não ser confundido com quem ostenta. E a não tão evidente de se justificar uma exceção: sou muito, muito rico, mas, acredite, sou uma pessoa correta e quero parecer correta.

No Brasil, não precisamos de estudos, pois vivemos de certezas. Vamos parecer cuidadosos se evitarmos que crianças e adolescent­es vejam em um museu o que recebem diariament­e em seus celulares. Vamos parecer mais ricos se mostrarmos que somos ricos, não importa tanto como alcançamos a riqueza.

Talvez precisemos de uma inteligênc­ia artificial para apontar falsos moralistas e corruptos.

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