A CARAVANA PASSOU
Em fase de ‘pindaíba’, PT leva menos militantes às ruas para apoiar Lula, que foi de carro para Curitiba
DE CURITIBA
Embora cercado por esquema de segurança e com cobertura intensiva da imprensa, o segundo depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro em Curitiba foi marcado por menos tensão —e mobilização— do que da primeira vez, em maio.
O PT levou menos militantes às ruas de Curitiba, assim como os movimentos pró-Lava Jato. A Polícia Militar reduziu o efetivo pela metade, em comparação a maio.
Poucas ruas foram cercadas ao redor da sede da Justiça Federal, e mesmo pedestres sem credenciamento conseguiam passar por parte dos bloqueios, diante da tranquilidade da situação.
Dirigentes petistas admitiram o cansaço da militância, mas disseram que o momento político exige menos presença de apoiadores.
O ato com Lula teve apresentações culturais e até uma aula pública sobre a Lava Jato. A operação foi apontada como responsável por acabar com a indústria naval e de construção civil do país e “causar sofrimento a milhares de famílias brasileiras”, segundo o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão.
“O idealismo é o mesmo, e o senso de injustiça também”, disse Donizeti Gomes dos Santos, 59, sindicalista que viajou de Osasco (SP) até a capital paranaense.
Em frente ao caminhão de som, uma faixa fazia referência a 2018, com a frase “Eleição sem Lula é fraude”.
Do outro lado, embora admitissem que iriam mobilizar poucas pessoas em função do horário, grupos que pedem a condenação de Lula levaram um boneco inflável de “Super Moro”, com o juiz representado como um super-homem, chegaram a contratar um helicóptero que exibia mensa- gens, como uma pedindo “cadeia a todos os corruptos”.
Líder do movimento Curitiba contra Corrupção, o analista de RH Cristiano Roger, 40, disse que o grupo não recebe dinheiro de partidos e defendeu que todos os corruptos sejam condenados. O protesto foi bancado com uma “vaquinha”, segundo ele.
Ainda assim, o ato reuniu pouco mais de 50 pessoas. Do lado petista, foram 2.500 militantes, segundo a PM —cerca da metade dos que foram a Curitiba em maio. A organização estima em 4.000.
Houve momentos de tensão: membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) fizeram um cordão de isolamento para receber Lula, que foi xingado por moradores de “bêbado”, “vagabundo” e “ladrão”.
Mais cedo, uma mulher gritou “corrupto” e “vai trabalhar, vagabundo” aos simpatizantes petistas, enquanto mostrava o dedo do meio e fazia sinais imitando as grades de uma prisão. Foi respondida aos gritos de “coxinha” e “elite golpista”.
No ato com Lula, após o depoimento, um ovo foi jogado sobre o carro de som, mas ninguém foi atingido. O expresidente ainda não havia chegado ao local.
Mais tarde, um pedestre chamou os manifestantes de ladrões e foi cercado e empurrado por alguns deles. A PM interveio e separou os grupos.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, não houve registro de confrontos ou agressões. Os atos pró e contra Lula ocorreram a pelo menos dois quilômetros de distância, em um perímetro acertado com a polícia.
As grades que formavam o perímetro de segurança em torno da sede da Justiça foram desmontadas após o depoimento, por volta das 16h30. Carros e pedestres voltaram a circular normalmente.
O petista, denunciado nove vezes na Justiça, insinuou em discurso que terá de voltar mais vezes ao Paraná. “Não sei quantos processos eu tenho. Curitiba, aqui, é muito perto. Não sei se eles vão cansar. Eu não vou cansar.” ‘PINDAÍBA’ O ex-presidente viajou de carro de São Paulo a Curitiba para poupar gastos com transporte aéreo, já que precisa cobrir despesas com combustível e tripulação mesmo quando a aeronave é cedida.
Há dois anos sem receber doações de empresas, o PT montou estrutura mais tímida. Se em maio o partido montou um amplo palanque, desta vez o discurso de Lula foi em um carro de som.
O número de dirigentes petistas que viajaram à capital paranaense também foi bem menor. Da outra vez, toda a executiva do partido acompanhou o petista. Agora, apenas seis membros da cúpula esperavam pelo ex-presidente na saída do depoimento. Eles ficaram hospedados em um hotel mais simples.
Chefe de gabinete da presidência do PT, o ex-ministro Gilberto Carvalho admite que o partido vive “uma pindaíba”. “E vai cortar muito mais”, diz ele.
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
A maioria da oitava turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, em Porto Alegre, votou nesta quarta-feira (13) pelo aumento da pena que o juiz Sergio Moro aplicou contra o ex-ministro José Dirceu.
Em maio do ano passado, Dirceu foi condenado por ele a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e organização criminosa.
Dos três juízes que compõem a oitava turma, dois consideram que a pena de Dirceu deve ser aumentada: o relator João Pedro Gebran Neto (para 41 anos e quatro meses) e o revisor Leandro Paulsen (para 27 anos, 4 meses e 20 dias).
O terceiro magistrado, Victor Luiz dos Santos Laus, disse que tinha dúvidas sobre o processo e pediu vista.
O advogado de Dirceu, Roberto Podval, afirmou que o processo não se encerra no TRF.
Mesmo se condenado em segunda instância, a defesa do ex-ministro ainda pode recorrer ao próprio tribunal. Então, o processo volta a Moro para a determinação de prisão.
No processo, o Ministério Público acusa José Dirceu de ter recebido R$ 10 milhões em propinas da Engevix por meio de contratos superfaturados com a diretoria de Serviços da Petrobras, e essas propinas eram transferidas para o PT, cujo tesoureiro era João Vaccari Neto.
A principal divergência do julgamento foi em relação a Vaccari, também réu no processo.
Em ação anterior, o ex-tesoureiro foi absolvido pela turma porque os magistrados entenderam que não havia provas no processo contra ele, apenas palavras de delatores.
Gebran era o único que discordava da absolvição no processo anterior, e voltou a discordar agora: votou por uma pena de 40 anos de prisão contra Vaccari.
Para condenar Vaccari, o relator argumentou que há depoimentos de delatores que apresentam “corroboração mútua”. O revisor Leandro Paulsen discordou.
O advogado do ex-tesoureiro, Luiz Flávio Borges D’Urso, disse em nota após o pedido de vista que Vaccari e a defesa “reiteram que continuam a acreditar na Justiça brasileira”.