Folha de S.Paulo

A CARAVANA PASSOU

Em fase de ‘pindaíba’, PT leva menos militantes às ruas para apoiar Lula, que foi de carro para Curitiba

- DAS ENVIADAS ESPECIAIS A CURITIBA JOSÉ MARQUES

DE CURITIBA

Embora cercado por esquema de segurança e com cobertura intensiva da imprensa, o segundo depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro em Curitiba foi marcado por menos tensão —e mobilizaçã­o— do que da primeira vez, em maio.

O PT levou menos militantes às ruas de Curitiba, assim como os movimentos pró-Lava Jato. A Polícia Militar reduziu o efetivo pela metade, em comparação a maio.

Poucas ruas foram cercadas ao redor da sede da Justiça Federal, e mesmo pedestres sem credenciam­ento conseguiam passar por parte dos bloqueios, diante da tranquilid­ade da situação.

Dirigentes petistas admitiram o cansaço da militância, mas disseram que o momento político exige menos presença de apoiadores.

O ato com Lula teve apresentaç­ões culturais e até uma aula pública sobre a Lava Jato. A operação foi apontada como responsáve­l por acabar com a indústria naval e de construção civil do país e “causar sofrimento a milhares de famílias brasileira­s”, segundo o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão.

“O idealismo é o mesmo, e o senso de injustiça também”, disse Donizeti Gomes dos Santos, 59, sindicalis­ta que viajou de Osasco (SP) até a capital paranaense.

Em frente ao caminhão de som, uma faixa fazia referência a 2018, com a frase “Eleição sem Lula é fraude”.

Do outro lado, embora admitissem que iriam mobilizar poucas pessoas em função do horário, grupos que pedem a condenação de Lula levaram um boneco inflável de “Super Moro”, com o juiz representa­do como um super-homem, chegaram a contratar um helicópter­o que exibia mensa- gens, como uma pedindo “cadeia a todos os corruptos”.

Líder do movimento Curitiba contra Corrupção, o analista de RH Cristiano Roger, 40, disse que o grupo não recebe dinheiro de partidos e defendeu que todos os corruptos sejam condenados. O protesto foi bancado com uma “vaquinha”, segundo ele.

Ainda assim, o ato reuniu pouco mais de 50 pessoas. Do lado petista, foram 2.500 militantes, segundo a PM —cerca da metade dos que foram a Curitiba em maio. A organizaçã­o estima em 4.000.

Houve momentos de tensão: membros do MST (Movimento dos Trabalhado­res Rurais sem Terra) fizeram um cordão de isolamento para receber Lula, que foi xingado por moradores de “bêbado”, “vagabundo” e “ladrão”.

Mais cedo, uma mulher gritou “corrupto” e “vai trabalhar, vagabundo” aos simpatizan­tes petistas, enquanto mostrava o dedo do meio e fazia sinais imitando as grades de uma prisão. Foi respondida aos gritos de “coxinha” e “elite golpista”.

No ato com Lula, após o depoimento, um ovo foi jogado sobre o carro de som, mas ninguém foi atingido. O expresiden­te ainda não havia chegado ao local.

Mais tarde, um pedestre chamou os manifestan­tes de ladrões e foi cercado e empurrado por alguns deles. A PM interveio e separou os grupos.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, não houve registro de confrontos ou agressões. Os atos pró e contra Lula ocorreram a pelo menos dois quilômetro­s de distância, em um perímetro acertado com a polícia.

As grades que formavam o perímetro de segurança em torno da sede da Justiça foram desmontada­s após o depoimento, por volta das 16h30. Carros e pedestres voltaram a circular normalment­e.

O petista, denunciado nove vezes na Justiça, insinuou em discurso que terá de voltar mais vezes ao Paraná. “Não sei quantos processos eu tenho. Curitiba, aqui, é muito perto. Não sei se eles vão cansar. Eu não vou cansar.” ‘PINDAÍBA’ O ex-presidente viajou de carro de São Paulo a Curitiba para poupar gastos com transporte aéreo, já que precisa cobrir despesas com combustíve­l e tripulação mesmo quando a aeronave é cedida.

Há dois anos sem receber doações de empresas, o PT montou estrutura mais tímida. Se em maio o partido montou um amplo palanque, desta vez o discurso de Lula foi em um carro de som.

O número de dirigentes petistas que viajaram à capital paranaense também foi bem menor. Da outra vez, toda a executiva do partido acompanhou o petista. Agora, apenas seis membros da cúpula esperavam pelo ex-presidente na saída do depoimento. Eles ficaram hospedados em um hotel mais simples.

Chefe de gabinete da presidênci­a do PT, o ex-ministro Gilberto Carvalho admite que o partido vive “uma pindaíba”. “E vai cortar muito mais”, diz ele.

ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

A maioria da oitava turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, em Porto Alegre, votou nesta quarta-feira (13) pelo aumento da pena que o juiz Sergio Moro aplicou contra o ex-ministro José Dirceu.

Em maio do ano passado, Dirceu foi condenado por ele a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e organizaçã­o criminosa.

Dos três juízes que compõem a oitava turma, dois consideram que a pena de Dirceu deve ser aumentada: o relator João Pedro Gebran Neto (para 41 anos e quatro meses) e o revisor Leandro Paulsen (para 27 anos, 4 meses e 20 dias).

O terceiro magistrado, Victor Luiz dos Santos Laus, disse que tinha dúvidas sobre o processo e pediu vista.

O advogado de Dirceu, Roberto Podval, afirmou que o processo não se encerra no TRF.

Mesmo se condenado em segunda instância, a defesa do ex-ministro ainda pode recorrer ao próprio tribunal. Então, o processo volta a Moro para a determinaç­ão de prisão.

No processo, o Ministério Público acusa José Dirceu de ter recebido R$ 10 milhões em propinas da Engevix por meio de contratos superfatur­ados com a diretoria de Serviços da Petrobras, e essas propinas eram transferid­as para o PT, cujo tesoureiro era João Vaccari Neto.

A principal divergênci­a do julgamento foi em relação a Vaccari, também réu no processo.

Em ação anterior, o ex-tesoureiro foi absolvido pela turma porque os magistrado­s entenderam que não havia provas no processo contra ele, apenas palavras de delatores.

Gebran era o único que discordava da absolvição no processo anterior, e voltou a discordar agora: votou por uma pena de 40 anos de prisão contra Vaccari.

Para condenar Vaccari, o relator argumentou que há depoimento­s de delatores que apresentam “corroboraç­ão mútua”. O revisor Leandro Paulsen discordou.

O advogado do ex-tesoureiro, Luiz Flávio Borges D’Urso, disse em nota após o pedido de vista que Vaccari e a defesa “reiteram que continuam a acreditar na Justiça brasileira”.

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Fotos Marlene Bergamo/Folhapress Lula ao lado da senadora Gleisi Hoffmann (à esq.), do ex-ministro Alexandre Padilha (de vermelho) e de outros apoiadores, ao chegar ao depoimento
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Boneco em protesto mostra juiz Moro como super-homem
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Theo Marques/Framephoto/Folhapress Membros de movimentos sociais e do PT no ato pró-Lula

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