Folha de S.Paulo

PF prende Wesley Batista, acusado de manipulaçã­odomercado­financeiro

Ele e o irmão Joesley, donos da JBS, são suspeitos de se beneficiar de delação para lucrar

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Em audiência na Justiça Federal após ser preso, Wesley reclamou de sua detenção e atacou o Ministério Público

O sócio e presidente global da JBS, Wesley Batista, foi preso na manhã desta quarta (13) em São Paulo. O pedido de prisão é preventiva — sem data para sair— e foi expedido pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Também houve pedido de prisão preventiva contra Joesley, que está detido desde segunda (11) em Brasília.

Nesse caso, os irmãos Batista são acusados de se beneficiar com a compra de dólares e com a venda de ações da JBS, aproveitan­do-se do impacto no mercado de seu acordo de delação premiada.

Joesley se entregou no domingo (10), em São Paulo, depois que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, suspendeu os benefícios de seu acordo de delação premiada e de Ricardo Saud, executivo da JBS.

Se não houver pedido de prorrogaçã­o de temporária ou reversão para preventiva da prisão de Joesley no Distrito Federal, o empresário deve ser transferid­o para São Paulo, onde cumprirá esse segundo mandado de prisão.

As ações da Polícia Federal desta quarta (13) integram a segunda fase da Operação Tendão de Aquiles que investiga, desde junho, se os irmãos Batista se beneficiar­am de seu acordo de delação para lucrar no mercado financeiro, fazendo reservas.

A prática é apelidada de “insider trading”. Documentos apresentad­os pela JBS à CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) mostram que pessoas ligadas aos Batista venderam R$ 200 milhões em ações da empresa dias antes da divulgação do acordo com a PGR, em 17 de maio.

Em depoimento, os irmãos negaram a prática.

O caso não está relacionad­o à delação de executivos da empresa e está fora da jurisdição de Fachin e de Rodrigo Janot, procurador-geral.

Porém a possibilid­ade de revogação dos benefícios concedidos aos irmãos no acordo, o que poderia levar ao “risco concreto de fuga”, foi citada como uma das justificat­ivas para a prisão.

“Em especial após possível revogação dos benefícios premiais concedidos pela PGR”, de acordo com a decisão, não no mercado de capitais é chamado de “insider trading”. Os casos suspeitos são investigad­os pela CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s), que pode impor penas administra­tivas. Quando vê indícios de crime, a CVM compartilh­a os processos com o Ministério Público, mas nem todos os casos chegam à Justiça. haveria “outra medida eficaz, além da prisão cautelar, que possa ser utilizada”.

Segundo a PF, as investigaç­ões se dividem em dois acontecime­ntos. O primeiro deles é a ordem de venda pela FB Participaç­ões, controlado­ra do grupo, de R$ 200 milhões em ações da JBS entre 24 de abril e 17 de maio. Na ocasião, os papéis estavam em alta no mercado.

Quando a delação veio a público —com a informação de que Joesley tinha gravado o presidente Michel Temer (PMDB)—, as ações se desvaloriz­aram e os Batista compraram as ações que tinham vendido por valores inferiores do que haviam negociado.

O segundo evento é a “intensa compra de contratos de derivativo­s de dólares” entre 28 de abril e 17 de maio pela JBS, acima da movimentaç­ão usual da empresa. Foram quase US$ 3 bilhões, segundo o Ministério Público.

Os irmãos podem ser indiciados por crime contra o mercado de capitais. A pena prevista é de um a cinco anos de prisão, além de multa de até três vezes o total que lucraram com as transações.

Em audiência na após ser preso, Wesley reclamou de sua detenção. “Não sei que crime cometi. Começo a achar que o crime foi ter assinado um acordo de delação com a Procurador­ia-Geral da República. Pergunto se o crime que cometi foi ter me tornado colaborado­r”, afirmou.

O juiz acatou pedido da defesa e determinou que ele permaneça preso na carceragem. AUDITORIA O vice-presidente da J&F Investimen­tos, Francisco de Assis e Silva, disse à Folha que o grupo criou uma comissão independen­te de apuração interna e contratou uma empresa de auditoria dos EUA para comprovar que os dirigentes da companhia não usaram informaçõe­s privilegia­das. “Não houve ‘insider trading’. Isso não existiu”, disse o executivo. “Esse laudo está sendo juntado no processo.” (BELA MEGALE, CAMILA MATTOSO, MÔNICA BERGAMO, GABRIELA SÁ PESSOA E FLÁVIO FERREIRA E WÁLTER NUNES) LEIA MAIS NA PÁG. A21

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Marcelo Justo/Folhapress No banco traseiro da viatura da PF, Wesley Batista deixa a sede da Justiça Federal em SP

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