Folha de S.Paulo

Brasileiro­s relatam pânico pós-Irma em ilha

Avião da FAB trouxe 14 pessoas que estavam em Saint Martin, uma das mais atingidas pelo furacão no Caribe

- NATÁLIA CANCIAN

Maioria já morava na ilha há algum tempo e enfrentou falta de luz, água e o medo da violência por comida

Um grupo de oito brasileiro­s e seis estrangeir­os que estavam na ilha de Saint Martin, no Caribe, uma das mais atingidas pelo furacão Irma, chegou ao Brasil na madrugada desta quarta-feira (13).

Eles foram resgatados por uma aeronave da Força Aérea Brasileira, após uma força-tarefa que envolveu avisos em rádios locais, um dos poucos meios de comunicaçã­o disponívei­s devido à falta de energia, e mensagens entre parentes e o Itamaraty.

A aeronave VC-2 Embraer 190 pousou na base aérea de Brasília por volta de 1h30. Estavam no voo oito brasileiro­s, um americano, dois venezuelan­os e três holandeses. A maioria dos estrangeir­os é casado ou filho de brasileiro­s.

“Quando soube [do resgate], entrei em pânico, querendo voltar”, relata a brasileira Valéria Williams, 42, que mora em Saint Martin e embarcou no voo junto com a filha.

Patrícia Albuquerqu­e Robinson esperava do lado de fora da base aérea a chegada do avião que traria o marido americano ao Brasil. Ao vê-lo desembarca­r com os dois cachorros escondidos na mala, correu para um abraço. “You are my hero (você é meu herói)”, dizia, emocionada.

Durante a passagem do furacão, ela visitava a família no Rio de Janeiro. Na ilha, o marido tentava se proteger no RICARDO PASSARELLI, 48 brasileiro resgatado de Saint Martin banheiro da casa onde moravam, que ficou quase totalmente destruída. “Para descobrir se ele estava vivo ou morto, foram 48 horas.”

Em geral, a maioria dos brasileiro­s e estrangeir­os resgatados já morava na ilha há alguns anos e passava por dificuldad­es nos últimos dias devido à falta de energia e água e ao medo da violência.

No domingo (10), o Itamaraty havia informado que ao menos 65 brasileiro­s ainda estavam na região, 32 na ilha de Saint Martin.

Antes do resgate, porém, parte do grupo já havia conseguido deixar o local por meio de operações de apoio de outros países.

Ao menos dois decidiram ficar —segundo os parentes, para reconstrui­r suas casas. O Itamaraty não tem informaçõe­s atualizada­s sobre os demais. Segundo o ministério, na ilha de Tortola, que é território britânico, ainda há dificuldad­es de acesso. SÓ AREIA “Volto para lá daqui a 20 dias ou um mês. É difícil, você fica sem água, sem luz. Onde eu estava, graças a Deus não faltou comida e tinha JENNIFER DA SILVA CARVALHO, 42 holandesa casada com brasileiro água, mas é ruim ficar nessa situação”, diz Ricardo Passarelli, 48, que trabalha na ilha como chef de cozinha há um ano. Para se proteger do furacão, ele conta que buscou abrigo em um hotel que tem quartos subterrâne­os.

“As ondas vinham e entravam pela janela, mas preferi ficar com água no meio da perna do que ficar lá em cima”, relata.

Assim que deixou o lugar, Passarelli encontrou apenas destroços. “Teve quartos que desaparece­ram. Você não via nada, só areia.”

Luciana de Lima, 47, também passou momentos de terror. Foram quase sete horas segurando a porta do banheiro para evitar que estourasse. “Nosso teto da sala voou. Os móveis quebraram”, relata ela, que chegou a tentar duas vezes ir para um abrigo em uma universida­de, mas teve o pedido negado.

Agora, pretende passar uma temporada em Porto Alegre com a família até a situação melhorar. O marido, também brasileiro, ficou para tentar reconstrui­r a casa.

Depois de seis dias de incertezas, a holandesa Jennifer da Silva Carvalho, 42, comemorava a chegada ao Brasil com as filhas de oito e 16 anos, filhas de um brasileiro que também mora em Saint Martin. Com parte da casa destruída após o furacão, a família quer tentar recomeçar a vida na capital gaúcha.

“Perdi tudo. Saint Martin era conhecida como uma das ilhas mais bonitas do Caribe. Agora, vai ter que recomeçar do zero. Casas, edifícios, carros, janelas ficaram quebrados e destruídos.”

Volto para lá daqui a 20 dias ou um mês. É difícil, você fica sem água, sem luz. Onde eu estava, graças a Deus não faltou comida e tinha água, mas é ruim ficar nessa situação “

Perdi tudo. Saint Martin era conhecida como uma das ilhas mais bonitas do Caribe. Agora, vai ter que recomeçar do zero. Casas, edifícios, carros, janelas ficaram quebrados e destruídos

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Mateus Bonomi/Folhapress Brasileiro­s resgatados de ilhas atingidas pelo furacão Irma no Caribe chegam à base aérea de Brasília nesta quarta (13)

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