Folha de S.Paulo

Líder de Mianmar evitará cúpula da ONU

Sob acusação de permitir limpeza étnica de rohingyas, Nobel da paz cita crise interna para não viajar a Nova York

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Desde início de embates com militares, mais de 370 mil membros de minoria étnica fugiram para Bangladesh

Em meio a críticas da comunidade internacio­nal pela violência sofrida pela minoria étnica rohingya, Aung San Suu Kyi, líder de fato de Mianmar e ganhadora do prêmio Nobel da paz, anunciou nesta quarta (13) que não irá à Assembleia Geral da ONU.

Um porta-voz informou que a prioridade no momento é impedir que a violência se espalhe pelo país.

A crise começou no dia 25 de agosto, quando rebeldes rohingyas atacaram 20 delegacias no Estado de Rakhine, no oeste do país, onde se concentra a minoria rohingya.

Em resposta, o Exército tem conduzido o que chamou de “operações de limpeza”, que afirma visar a detenção de “terrorista­s” e a proteção da população civil.

O gabinete de Suu Kyi afirmou que obteve informaçõe­s sobre o planejamen­to de ataques terrorista­s e que a segurança seria reforçada.

O presidente de Mianmar, Htin Kyaw, está hospitaliz­ado, por isso o país será representa­do na Assembleia Geral da ONU pelo vice-presidente Henry Van Tio.

secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse nesta quarta que não há termo mais apropriado para descrever o caso do que “limpeza étnica”. Ele pediu às autoridade­s birmanesas que suspendam as ações militares e que “reconheçam o direito de retorno daqueles que tiveram que deixar Mianmar”.

Na segunda (11), o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, disse que a situa- ção era um “exemplo clássico de limpeza étnica”.

O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir nesta quarta pela segunda vez desde o início da crise. O Embaixador do Reino Unido na ONU, Matthew Rycroft, disse esperar que os países membros concordem com um comunicado oficial sobre o tratamento dos rohingyas.

Desde agosto, a ONU estima que mais de 370 mil pessoas tenham fugido de MianO mar para Bangladesh. Muitos dos recém-chegados estão se alojando em escolas e em barracas improvisad­as.

Antes da crise atual, cerca de 400 mil rohingyas já moravam em dois campos de refugiados nas cidades de Kutupalong e Napayara, próximas à fronteira. O governo bengali informou que irá fornecer 810 hectares de terras para a instalação de um novo campo em Cox’s Bazar.

Os rohingyas não têm direito à cidadania birmanesa. Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos no país, como educação e saúde, e são proibidos de votar.

O primeiro-ministro bengali, Sheikh Hasina, prometeu ajuda aos recém-chegados e exigiu que Mianmar “receba de volta seus cidadãos”.

A grande maioria dos rohingya em Bangladesh vive em condições precárias e não dispõe de água potável, assistênci­a médica e comida suficiente.

No ano passado, vários laureados com o Nobel —Malala Yousafzai, Desmond Tutu e 11 outros— assinaram uma carta aberta “alertando sobre o potencial genocídio” dos rohingyas.

Suu Kyi tem sido criticada por não condenar as operações militares e por negar que haja violência contra os rohingyas. Alguns críticos chegaram a pedir a revogação do Nobel, concedido em 1991.

Com maioria budista, Mianmar é marcado pela influência de monges radicais que denunciam os rohingyas, que são muçulmanos, como uma ameaça. Perseguido­s no país, eles são vistos por muitos como imigrantes ilegais.

Em 2016, Suu Kyi defendeu em seu discurso na Assembleia Geral da ONU os esforços do governo para solucionar a crise dos rohingyas.

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Adinan Abidi/Reuters Manifestan­tes protestam contra o ‘assassinat­o dos rohingyas’ em Nova Déli, na Índia
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