Eles estavam escondidos lá [risos], o Jafet, o Matarazzo.
Folha - Qual a raiz do projeto?
Jacques Marcovitch - Na década de 1970, quando comecei a dar aulas na FEA, procurei exemplos de empresários brasileiros. Havia [Henry] Ford, [Jules Henry] Fayol, [John Davison] Rockefeller, mas do Brasil não havia nada. Só um pouco de Matarazzo. Que é italiano.
Sim, dos pioneiros, parte não é nascida aqui. Mas há uma adversidade de origem que explica um traço do pioneirismo brasileiro. Enfrentar a adversidade muito cedo faz com que o indivíduo se prepare melhor para a vida.
Em cargos de gestão na USP, precisei transitar por outras áreas e comecei a descobrir o que há de pesquisa de empresários. Há um divórcio entre a história do Brasil e a presença dos empresários. Em qualquer livro, o máximo que se encontra é [barão de] Mauá. Por quê?
No Brasil, como em alguns outros países de cultura latina, a tendência é demonizar o lucro. Há uma ideologia que ainda entende que o setor produtivo se apropria da maisvalia e marginaliza a força do trabalho. A história de empresas, ou mesmo a econômica, é relegada a segundo plano.
Isso não quer dizer que não tenhamos excelentes teses. Nem sempre na história, às vezes na sociologia. Fomos descobrindo pouco a pouco onde elas eram guardadas. Ficavam escondidas? Quando o projeto passou a ser pedagógico?
O projeto museológico força você a pensar em como se comunicar com os jovens. Nossa preocupação é influenciar as mentalidades, não simplesmente expor. Influenciar como?
Hoje a sala de aula é um lugar não de transferência, mas de construção de conhecimento, de identidade e de projeto de vida. No conhecimento, precisamos despertar, através de mitos positivos, uma curiosidade. O garoto sai da aula e vai buscar um pioneiro empreendedor no bairro dele, no qual pode se inspirar, e entender que somos capazes de construir o futuro.
Na identidade, se o jovem não vê referências positivas do nosso passado, como vai construir um futuro melhor? Estamos chegando a 2022, bi- centenário da Independência. Vamos levar para a juventude a mesma coisa do passado? A relação política com a metrópole? Ou vamos trazer dimensões novas, começando por Mauá, que se desvinculou da metrópole a ponto de criar indústrias no Brasil, o que era proibido na colonização? Como isso vira projeto de vida?
As lições que se tiram dos 24 personagens é que riqueza não é objetivo, mas meio para viabilizar o sonho, que o verdadeiro poder é mandar em si mesmo, não nos outros. E que sabedoria é valorizar o conhecimento dos outros, daqueles que podem ajudá-los a viabilizar o sonho. Muitos dos pioneiros nunca estudaram, não tiveram educação formal. Por outro lado, a história brasileira sempre foi de confusão entre o público e o privado. Como separar o que foi empenho deles do que foi intimidade com o poder político? mas o papel do Estado é importante. Aconteceu com boa parte dos pioneiros, mas outros não precisaram. Acho que sua pergunta tem a ver mais com alguns setores que não estão nessa coletânea. E não é por acaso que não estão.
“e em outros países latinos, a tendência é demonizar o lucro. Há uma ideologia que ainda entende que o setor produtivo se apropria da maisvalia e marginaliza a força do trabalho. A história de empresas, ou