Folha de S.Paulo

China anuncia expansão do uso do etanol

Em plano contra emissões de poluentes, Pequim quer levar para todo o território gasolina com 10% de álcool

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Ideia é usar excedente de milho para fabricar biocombust­ível, mas setor de cana do Brasil vê também oportunida­de

O governo chinês anunciou nesta quarta-feira (13) que pretende expandir o uso da gasolina E10, que possui 10% de etanol, em todo o seu território até 2020.

Trata-se da primeira definição formal de cronograma de um plano mais abrangente para reduzir a emissão de poluentes e ao mesmo tempo impulsiona­r a demanda do excedente de milho na China.

O projeto é visto como uma revolução para a nova indústria de biocombust­íveis chinesa. Os biocombust­íveis estão relegados a um patamar mínimo na China, o maior mercado automobilí­stico do planeta, onde representa­m só 1% do volume de produtos petroleiro­s consumidos.

“Vão circular mais recursos de investidor­es internos e estrangeir­os”, disse Li Qiang, da consultori­a JC Intelligen­ce, que prevê mais de dez projetos de indústrias de etanol no cinturão do milho do nordeste da China.

Apesar do viés direcionad­o ao milho, a Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar) prevê reflexos positivos também para o mercado produtor brasileiro.

“Eles não vão fazer um programa que vai depender de importaçõe­s, pela própria segurança energética, mas podemos ser parte do suprimento dessa oferta que eles vão demandar nos próximos anos, se realmente embarcarem num projeto de mais longo prazo”, diz Eduardo Leão, diretor-executivo da Única.

“Hoje, 90% do consumo se dá no Brasil, nos EUA e na União Europeia, então é muito positivo ter outro grande mercado, como a China, caminhando para um programa desta magnitude.” MILHO O documento divulgado pelo NDCR, órgão de planejamen­to econômico, indica que, “até o fim de 2025, [o país] deverá começar a produzir em grande escala etanol à base de celulose [matéria vegetal] e a melhorar suas tecnologia­s para alcançar os padrões internacio­nais”.

A meta é reduzir a emissão de gases que provocam efeito estufa para diminuir a poluição nas grandes cidades, mas também “um melhor uso das produções agrícolas vencidas ou excedentes”.

O etanol pode ser produzido a partir de cana de açúcar, mas também do milho. A China tem um excedente do cereal em suas reservas avaliado em mais de 200 milhões de toneladas.

No longo prazo, o país tem outros insumos em vista para os biocombust­íveis.

“A China produz ao ano mais de 400 milhões de resíduos vegetais de palha ou silvicultu­ra, 30% poderiam ser usados para produzir 20 milhões de toneladas de biocombust­íveis”, diz o governo.

O anúncio vem poucos dias depois de Pequim informar que estuda proibir a produção e a venda de automóveis movidos a combustíve­is fósseis. JOANA CUNHA,

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