Artista incomum, pintava com varetas e algodão
De sua casa em Florianópolis, Eli Heil recebeu certa vez um telefonema no crítico de artes Harry Laus. Ele queria saber como a obra da artista plástica poderia ser classificada. “Não sei. Não tem classificação, eu só faço. Talvez imaginária”, respondeu ela.
Ao contar a passagem, o filho de Eli, José Pedro, cai na gargalhada e dá o veredito: “Era inclassificável mesmo”.
Catarinense de Palhoça, Eli começou a arriscar como artista plástica quando já estava com 33 anos. Deparou-se com um quadro comprado pelo irmão e afirmou convicta: “Isso eu também faço”, lançando o desafio a si mesma.
Professora de educação física, estava afastada por conta de uma grave bronquite, e aproveitou para arriscar nas pinturas. Pediu dicas ao irmão, mas logo deixou claro que não faria as coisas da forma convencional. Trocou pincéis por varetas de madeira, agulhas, algodão, esponjas. Quando ninguém falava sobre reciclagem, ela já usava latinhas, canos de PVC, saltos de sapato, rolos de papel higiênico. Chegava a derreter tábuas de privada no fogão para remoldá-las.
Eli desenvolveu, ao todo, mais de 200 técnicas para suas pinturas, esculturas, desenhos, o que fez suas obras se- rem classificadas como “arte incomum” na 16ª Bienal Internacional de São Paulo.
Eli sofria um pouco a cada venda ou empréstimo de obra, mas isso não a impediu de fazer inúmeras exposições —só na França, foram 46. Também criou o museu Mundo Ovo, em Florianópolis, para expô-las.
Morreu domingo (10), aos 88, devido a problemas respiratórios. Deixa três filhos, dois netos e dois bisnetos. coluna.obituario@grupofolha.com.br 7º DIA Neste domingo (17), às 12h30, capela da PUC-
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