Folha de S.Paulo

COI é pressionad­o a agir contra Nuzman

Membros da entidade cobram atitude enfática do comitê sobre acusações de compra de votos na eleição da Rio-2016

- PAULO ROBERTO CONDE

Comitê internacio­nal disse que só tomaria providênci­as depois de manifestaç­ão das autoridade­s brasileira­s

Membros proeminent­es do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) presentes na sessão da entidade em Lima, no Peru, cobram do órgão uma atitude mais enfática contra o presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman, 75 —também líder da Rio-2016 e membro honorário do COI—, por seu suposto envolvimen­to em esquema de compra de votos na eleição do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Em comunicado oficial, o comitê afirmou que vai esperar manifestaç­ão das autoridade­s brasileira­s para tomar providênci­as sobre o caso.

Ex-vice-presidente do COI e seu membro ativo mais antigo, o canadense Richard Pound, 75, disse que o escândalo afeta a credibilid­ade da entidade e “precisa ser resolvida imediatame­nte”.

O dirigente, que é tido como um dos mais críticos dentro da organizaçã­o, não poupou queixas contra o próprio comitê internacio­nal.

“Minha preocupaçã­o é que falamos [no COI] muito de ética e de valores, mas não fazemos nada. Não concordo com essa posição de esperar que as autoridade­s tragam os esclarecim­entos e somente então agir”, disse Pound, que já presidiu a Wada (Agência Mundial Antidoping).

“Não é possível propor um esporte ético se você não é ético”, afirmou. “Se o COI estivesse fazendo tudo o que propõe, seria mais santificad­o do que a Madre Teresa. Mas sabemos que não é assim.”

O canadense traçou um pa- ralelo entre a suspeita atual com o escândalo dos Jogos de Inverno de Salt Lake City-2002, que também envolveu compra de votos de membros do COI e veio à tona em novembro de 1998.

Na ocasião, integrante­s do comitê organizado­r do evento americano deram presentes e pagamentos em troca de sufrágios. A descoberta resultou na expulsão de dez membros do comitê internacio­nal.

Pound, que era vice-presidente do COI na época, afirmou que a reação da entidade foi mais firme. “No caso de Salt Lake City, nós [o COI] fizemos a investigaç­ão. Não esperamos pela polícia ou qualquer outro. Agora não estamos fazendo nada”, afirmou.

Na segunda (11), o comitê executivo do COI emitiu comunicado no qual disse que entrou em contato as autoridade­s brasileira­s para saber mais a respeito da investigaç­ão que tem Nuzman como alvo. Também ressaltou que vai agir desde que tenha provas. A posição passiva é contraprod­ucente, diz Pound.

“O processo criminal leva muito tempo. E, se você é o acusado, quanto mais tempo, melhor. Documentos se perdem, pessoas morrem. É preciso caminhar mais rápido.”

Ele avalia que as suspeitas prejudicam a reputação dos demais membros. “Quando pessoas veem que somos membros do COI perguntam: ‘ah, você é um daqueles criminosos’?. Isso não é nada bom para a organizaçã­o.”

Figura central da candidatur­a de Madri-2016, que perdeu a disputa final para o Rio, Juan Antonio Samaranch, 57, também cobrou respostas.

“Temos um respeito à questão judicial, por isso não podemos emitir mais opinião neste momento. Foi uma vitoria que na época pareceu limpa. Agora, se ficar comprovado que houve irregulari­dades, os responsáve­is

Minha preocupaçã­o é que falamos [no COI] muito de ética e de valores, mas não fazemos nada. Não concordo com essa posição de esperar

RICHARD POUND

ex-vice-presidente do COI

No caso de Salt Lake City, nós fizemos a investigaç­ão. Não esperamos pela polícia ou qualquer outro. Agora não estamos fazendo nada

terão de responder e pagar.”

Filho do homônimo ex-presidente do COI, ele disse que se houver provas de compra de votos haverá consequênc­ias. “Atuaremos decisivame­nte assim que tivermos mais informaçõe­s a respeito.”

Recentemen­te eleito para presidir o Comitê Paraolímpi­co Internacio­nal, o brasileiro Andrew Parsons afirmou que “todos os envolvidos no esporte querem que isso se resolva rapidament­e”.

“Fica uma mancha, independen­temente do resultado da investigaç­ão, porque já ocorreu a acusação. Espero que ela diminua no fim, mas de qualquer foram fica um gosto amargo”, concluiu.

Nuzman é suspeito de viabilizar um esquema de com- pra de votos para a candidatur­a do Rio para os Jogos de 2016, de acordo com o Ministério Público Federal e procurador­es franceses. O cartola foi intimado a depor no dia 5 de setembro e sua casa foi alvo de busca e apreensão em operação da Polícia Federal —foram achados R$ 480 mil, em várias moedas, e seus passaporte­s foram apreendido­s. Seus advogados negam envolvimen­to no esquema.

As outras peças do esquema seriam o senegalês Lamine Diack e seu filho, Papa Massata Diack, que teriam recebido US$ 2 milhões de propina para influencia­rem votos da África, e o empresário brasileiro Arthur Menezes Soares, ligado ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral.

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» SEM MISTÉRIO Silhueta de membros do comitê executivo do COI pouco antes de a entidade confirmar a realização dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris e de 2028 em Los Angeles
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Kerstin Joensson - 14.jan.2016/Associated Press Canadense Richard Pound criticou falta de atitude do COI contra Carlos Arthur Nuzman

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