Folha de S.Paulo

Novo ‘Star Trek’ adota forma novelesca para ganhar fãs

Arcos dramáticos mais longos agradam produtores, que não querem se limitar a um formato engessado de episódio

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1966-69 Star Trek (Jornada nas Estrelas) Era uma missão de cinco anos, segundo a abertura da série, mas a NBC cortou a verba do programa após três. Nos anos seguintes, se tornou a reprise de maior audiência nos Estados Unidos, o que motivou a Paramount, dona dos direitos, a investir em uma série de filmes

Temática bélica destoa do otimismo tradiciona­l da franquia, mas série tenta ganhar ‘trekkers’ com narrativa coerente

Na tentativa de ganhar novos fãs, “Star Trek: Discovery” conta uma história que se desenvolve gradualmen­te, com arcos dramáticos que duram dois ou três episódios.

Nas edições anteriores da franquia, o mais comum era 1987-94 Star Trek: A Nova Geração Veio então a “Nova Geração”, a mais bem-sucedida edição em audiência, com um pontapé inicial de Gene Roddenberr­y, criador da série clássica. A série foi cancelada quando a Paramount achou que deveria voltar a investir em cinema, dessa vez, com o elenco da “Nova Geração” contar apenas uma história por episódio —a que mais se aproxima de uma trama contínua é “Deep Space Nine”.

Desde a década de 1990, a saga tenta sair das amarras da “lei de [Gene] Roddenberr­y”, criador da franquia, que proibia os roteirista­s de colocar os personagen­s em oposição uns contra os outros, o que engessava o enredo.

Mas uma guinada novelesca também envolve um risco com os fãs tradiciona­is, que podem vê-la com maus olhos.

“Precisamos de histórias que avancem a cada capítulo 1993-99 Deep Space Nine A trama acontece em uma estação espacial, não em uma nave, um formato inovador para “Star Trek”. Foi a primeira a contar uma história sequencial, diferente das demais. O protagonis­ta, Benjamin Sisko (Avery Brooks), é o comandante da estação, e vira capitão na terceira temporada para que as pessoas queiram virar a página e continuar assistindo”, diz o produtor atual da série, Aaron Harberts. “Às vezes, para conseguir isso, é importante haver uma perda ou uma morte.”

Uma dessas histórias é a carreira de uma protagonis­ta, que, pela primeira vez em “Star Trek”, não será a capitã da nave. É a oficial de ciências Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), humana criada por vulcanos.

“Ela está dividida entre culturas. Do ponto de vista da narrativa, tem que escolher 1995-2001 Voyager A primeira com uma mulher no comando, conta a história de uma nave que, por acidente, foi parar do outro lado da galáxia. Kate Mulgrew, que faz o papel da capitã Janeway, hoje é conhecida pela Red de “Orange is the New Black”. A série lidera a audiência em reprises na Netflix entre o lado lógico, vulcano, e o lado emocional”, diz Martin-Green à Folha. “Spock [o vulcano da série original] também lidava com isso, e eu me espelhei muito nele.”

Mas não é a mudança de foco do protagonis­mo que deixa os fãs ansiosos, e sim a temática bélica. “Os fãs veem ‘Star Trek’ como uma série otimista, mostrando o melhor da humanidade, então essa é uma grande preocupaçã­o”, diz o colunista da Folha Salvador Nogueira.

Aaron Harberts afirma que a série não será distópica, só 2001-05 Enterprise A série se passa no séc. 22, o mais próximo da atualidade que já se chegou na saga, e conta a história dos anos imediatame­nte anteriores à fundação da Federação Unida de Planetas. Foi cancelada pela Paramount devido à baixa audiência um pouco mais “bruta”. “Como se passa durante a guerra, tem um estilo de fotografia diferente. Ela é mais áspera, mas não é sombria.”

Os klingons, nesse contexto, são uma metáfora política que serve para entender os Estados Unidos, diz Harberts.

“Para entender os klingons, é só olhar para os EUA. Qual a lógica de um país querer se isolar? O que motiva o desejo por pureza racial?”.

Para não desagradar os fãs, a produção manteve referência­s à estética dos anos 1960, da série original, já que “Discovery” 2017 Discovery Parceria entre Netflix e CBS, será a primeira transmitid­a exclusivam­ente via streaming. A protagonis­ta Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), é oficial de ciências da Discovery, o que destoa do formato tradiciona­l, que priorizava os capitães se passa logo antes, e contratou roteirista­s “obcecados pela coerência do cânone”, segundo Isaacs.

Os comunicado­res e armas são quase idênticos aos usados pela tripulação de Kirk, e a nave tem uma decoração com ângulos retos, botões quadrados nos painéis e cores em dourado, cobre e ferrugem, um toque retrô na década de 2250. (NATÁLIA PORTINARI) NA INTERNET Star Trek: Discovery Quando 25 de setembro, na Netflix

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