Folha de S.Paulo

Ravi Shankar, de quem se tornou parceiro em uma temporada em Paris na década de 1960.

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São 80 anos vividos intensamen­te. Nascido em Baltimore (EUA), em 1937, Philip Glass estudou filosofia e matemática na juventude. No início dos anos 1970, em Nova York, trabalhou como taxista e bombeiro antes de se consagrar como compositor.

Ao longo das décadas seguintes, criou mais de 15 óperas e cem trilhas para filmes. Tornou-se amigo de músicos como David Bowie e Leonard Cohen, com quem realizou parcerias, e montou instalaçõe­s ao lado de artistas como Richard Serra.

Considerad­o pela crítica dos Estados Unidos um dos expoentes da música de concerto no país e nome central do minimalism­o, Glass compõe e se dedica à prática do piano de modo quase obsessivo, como se buscasse uma nova “Einstein on the Beach”, a ópera que o tornou internacio­nalmente conhecido em 1976.

“Não reduzi o ritmo aos 80 anos. Pelo contrário, estou cada vez mais ocupado”, afirma Glass, que fará três apresentaç­ões no Brasil.

“Tenho sorte porque as pessoas na minha idade tendem a ficar mais lentas ou não conseguem trabalhar. Alguns parceiros, velhos como eu, já não compõem mais”, disse à Folha. “Minha memória está boa, o que me permite tocar a maioria das músicas sem olhar as partituras.”

Em janeiro deste ano, no seu aniversári­o, Glass promoveu a estreia de sua 11ª sinfonia em Nova York. Em seguida, partiu para uma extensa turnê comemorati­va, que chega agora ao Rio e a São Paulo.

Na Cidade das Artes, no Rio, e na Sala São Paulo, ele

PHILIP GLASS

compositor vai apresentar seus Estudos Completos para Piano, ciclo composto entre 1994 e 2012. Será acompanhad­o por quatro pianistas: os brasileiro­s Heloísa Fernandes e Ricardo Castro, a japonesa Maki Namekawa e a tailandesa radicada nos EUA Jenny Lin.

“Para o público que conhece as gravações iniciais dos Estudos, será interessan­te perceber como essas peças foram aprimorada­s ao longo de mais de duas décadas”, afirma Glass sobre as 20 peças que integram o ciclo.

Conta que as dez primeiras foram compostas com a finalidade de aprimorar a performanc­e dele ao piano. Na segunda dezena, sua meta se tornou a reelaboraç­ão da linguagem musical estabeleci­da na primeira parte. ECLÉTICO Já no Ibirapuera, o programa é mais eclético. Glass e os demais pianistas interpreta­rão trechos do álbum “Metamorpho­sis” (1988) e da trilha do filme “Mishima” (1985), de Paul Schrader, entre outras composiçõe­s.

“Mishima”, por exemplo, deixa evidente como Glass e o minimalism­o são indissociá­veis, embora ele não aprecie o rótulo. Nascido nos EUA nos anos 1960, o gênero se baseia em estruturas cíclicas, muito ligadas aos ritmos hipnóticos da música asiática.

Assim como aconteceu com os Beatles, Glass foi influencia­do pelo indiano VILLA-LOBOS O compositor americano já perdeu a conta de quantas vezes esteve no Brasil. Visitava o Rio regularmen­te na década de 1990, quando o guitarrist­a Zachary, um de seus quatro filhos, morava na cidade.

Ao longo dessa vivência carioca, caiu de amores por Villa-Lobos. “Naquela época, ele não era tão conhecido fora do Brasil. Hoje VillaLobos é admirado no mundo todo”, diz.

Vêm desse período, aliás, as primeiras impressões de Glass sobre os espectador­es brasileiro­s. “São ouvintes sofisticad­os. Por isso, nos preparamos bastante para esses concertos.”

Voltada ou não para o público do país, a intensidad­e do trabalho de Glass está associada à percepção de que não restam muitos anos pela frente. “Vou continuar compondo e tocando até quando me sentir capaz.” QUANDO nesta quinta (14), às 21h, no Rio; sábado (16), às 21h, e domingo (17), às 18h, em SP ONDE Cidade das Artes, no Rio, Sala São Paulo (16) e plateia externa do Auditório Ibirapuera (17), ambas em São Paulo QUANTO R$ 240 (Rio, só resta plateia) e grátis no Ibirapuera; esgotado na Sala São Paulo

“ritmo aos 80. Pelo contrário, estou cada vez mais ocupado. Tenho sorte porque as pessoas na minha idade tendem a ficar mais lentas ou não conseguem trabalhar. Alguns parceiros, velhos como eu, já não compõem mais. Mas minha memória está boa, o que me permite tocar músicas sem olhar as partituras

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Steve Pyke/Divulgação O compositor Philip Glass, que faz 3 apresentaç­ões no Brasil

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