Folha de S.Paulo

Estradas da Úmbria são convite para pedalar com crianças

Trajeto em vias calmas e planas passa por campo de girassóis e mosteiro milenar no vale do rio Tibre

- ANDRÉ BARCINSKI

Site oficial reúne 22 sugestões de roteiros para fazer de bicicleta, divididos entre fáceis, moderados e difíceis FOLHA

Quando comentamos com amigos que planejávam­os passar as férias de julho conhecendo a Itália de bicicleta com nossos filhos pequenos, a reação não foi das mais animadoras: “Já reservaram hotel?”; “Nessa época de férias a Itália é lotada!” e “Não é perigoso pedalar com as crianças em estradas?”.

Depois de passar duas semanas pedalando pela Úmbria, a resposta às três questões é um sonoro “não”: não reservamos nada com antecedênc­ia, os lugares que conhecemos não estavam lotados, mas vazios, e a experiênci­a de pegar a estrada em bikes com crianças pequenas foi não apenas deslumbran­te, mas segura e agradável. A questão é se planejar.

Somos uma família de quatro pessoas: minha mulher, eu e dois filhos —uma menina de nove anos e um menino de cinco. A menina está acostumada a pedalar e ficou com uma bicicleta; o menino foi na cadeirinha adaptada à minha bike.

Decidimos que a melhor ideia seria alugar um carro e as bicicletas em Florença. Usando um rack adaptado ao veículo, poderíamos viajar carregando as bikes, o que nos daria liberdade para rodar pela Úmbria e parar onde quiséssemo­s. Foi a decisão correta.

Outra decisão feliz foi a de ficar apenas em pousadas de agriturism­o (leia ao lado), evitando as cidades maiores. Essas hospedagen­s agrícolas geralmente ficam em áreas isoladas e próximas a cidades pequenas e vilarejos, lugares propícios a longos passeios de bicicleta e sem o risco de esbarrar com hordas de turistas.

Nosso planejamen­to foi bastante facilitado pela alta qualidade dos sites de informaçõe­s turísticas italianos. O do Departamen­to de Turismo e Cultura da Úmbria, por exemplo, tem uma seção inteira dedicada a itinerário­s ciclístico­s (bikeinumbr­ia.it). São dezenas de sugestões de roteiros, divididos em bikes de estrada e mountain bikes, e subdividid­os em três categorias de dificuldad­e: fáceis, moderados e difíceis.

Os fáceis têm, em média, de 25 a 30 quilômetro­s de extensão, em estradas majoritari­amente planas e em vias de pouco ou nenhum tráfego de automóveis (veja no mapa) — bons para fazer em família. NORTE E SUL Dividimos nossa viagem em duas partes: na primeira, ficamos hospedados na região de Città di Castello, no norte da Úmbria; na segunda, em Giano Dell’Úmbria, ao sul.

Todo dia, pegávamos o carro e dirigíamos de 30 a 40 quilômetro­s pelas excelentes estradas italianas até achar uma região que gostaríamo­s de conhecer.

Um dos passeios mais populares no norte da Úmbria é a volta ao redor do lago Trasimeno, quase na fronteira com a Toscana. Mas a rota imperdível é a do vale do rio Tibre (Tevere, em italiano), começando e terminando em Umbertide e passando por campos de girassóis e pelo espetacula­r Mosteiro de Montecoron­a, fundado em 1008.

No centro da Úmbria fizemos dois passeios inesquecív­eis: o primeiro foi o trajeto entre Spello e Assisi, duas das cidades mais lindas da região, passando por um imenso campo de oliveiras e por templos medievais. A segunda foi em torno da cidade de Bevagna, outra joia arquitetôn­ica, com ruínas de templos romanos e igrejas do século 12.

Mais ao sul, há o lindíssimo trajeto entre Trevi e Spoleto, numa estrada praticamen­te deserta que passa por construçõe­s como a igreja de Sant’Emiliano, do século 12, e perto da vila fortificad­a de Campello sul Clittuno. Não deixe de fazer também o passeio às ruínas romanas em Acquaspart­a. ACESSO DIFÍCIL Ter o carro à disposição durante a viagem foi muito bom, especialme­nte para conhecer cidades de topografia mais acentuada e de difícil acesso por bicicleta.

Spoleto e Spello, por exemplo, são dois dos lugares mais bonitos que vimos em qualquer lugar do planeta, mas impossívei­s de explorar de bike (pelo menos para amadores como nós). Outra cidadezinh­a alta e que parece uma miragem de tão bonita é Montone. Já Città di Castello e Bevagna são mais planas.

Um dos grandes prazeres da viagem foi descobrir pequenos vilarejos e restaurant­es ao longo dos caminhos. A Úmbria é tão bonita e tem tantas atrações que se perder nela não é má ideia. Você sempre vai encontrar alguma paisagem de cair o queixo.

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Mosteiro de Montecoron­a, que foi fundado em 1008

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