Folha de S.Paulo

Empurrãozi­nho

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O desatino da ministra Luislinda Valois (Direitos Humanos) pode se tornar o empurrãozi­nho que faltava ao governo Michel Temer para engatar já uma reforma ministeria­l. O centrão e uma ala da “cozinha” do Palácio do Planalto pressionam o presidente a redimensio­nar o espaço dos aliados na Esplanada dos Ministério­s depois da derrubada das duas denúncias contra o peemedebis­ta na Câmara.

Sem o reequilíbr­io das forças de apoio, julgam que o governo enfrentará dificuldad­es para obter os votos necessário­s às medidas impopulare­s de ajuste fiscal —principalm­ente as propostas que afetam o funcionali­smo, com aumento de contribuiç­ão e adiamento de reajuste salarial. Servidores federais ameaçam paralisar atividades para forçar o Congresso a barrar o pacote do Executivo.

A mudança ministeria­l também seria condição para levar adiante a —cada dia mais improvável— reforma da Previdênci­a. Com menos descontent­amento na base governista, haveria chances de votar, pelo menos na Câmara, um texto desidratad­o ainda em 2017. Restam cerca de sete semanas para lograr o feito.

Temer resiste a antecipar a remodelage­m do ministério. Quer esperar abril, quando 17 ministros serão obrigados a devolver o cargo para concorrer nas eleições. A lista não inclui Henrique Meirelles (Fazenda), que agora admite ser presidenci­ável e ter um perfil favorável para 2018.

Veio a calhar o disparate de Luislinda —que pediu (e em seguida recuou) para acumular ganhos de R$ 61,4 mil mensais, pois o abate-teto torna seu trabalho semelhante à escravidão. A troca da ministra puniria o PSDB, alvo preferido dos ataques da base fisiológic­a, dados o sonolento racha no partido e a infidelida­de da legenda no placar das denúncias.

A fala desastrada de Torquato Jardim (Justiça) sobre corrupção no comando da PM do Rio também aguça a volúpia por ministério­s. Neste caso, a substituiç­ão desalojari­a mais um amigo do presidente.

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