Folha de S.Paulo

Mariano Rajoy na ilha Barataria

- JOAN LLUÍS PÉREZ-FRANCESCH www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A ativação “à la carte” do artigo 155 da Constituiç­ão, como se acaba de realizar, deixa manifesta a necessidad­e de o mais rançoso nacionalis­mo espanhol triunfar. O diálogo não faz parte da concepção de mundo do poder central. Em nome da defesa de palavras grandiloqu­entes como a unidade nacional, percorreu-se um longo caminho para desativar as reivindica­ções de outro nacionalis­mo, o catalão —e de outra pretensão de soberania.

Desde 2006, ou talvez antes, o Partido Popular e o socialista PSOE, aos quais se somou o Cidadãos, vêm limando e cerceando as ambições catalãs. Em 2010, eles obtiveram um grande êxito, com a sentença do TC (Tribunal Constituci­onal) contra o Estatuto de Autonomia da Catalunha —o que, ao mesmo tempo, catapultou o catalanism­o em direção ao independen­tismo.

Por até 18 vezes se tentou negociar, mas a resposta do Estado sempre foi a mesma: ativação dos meios de repressão penal e do TC como braço executor das decisões governamen­tais. Manifestaç­ões multitudin­árias, vitórias eleitorais, elaboração de um “mapa do caminho” —conduzido primeiro por Artur Mas e depois por Carles Puigdemont—, um sem-fim de resoluções parlamenta­res, de leis e de convocatór­ias eleitorais, tudo foi recebido com respostas judiciais.

O PP preocupou-se apenas com seus interesses e converteu em impossível o que poderia ser possível para solucionar um problema político de primeira magnitude. A realidade é que uma parte importante da sociedade da Catalunha, associaçõe­s e o próprio governo regional conduziram um processo soberano, pacífico e civilizado.

Um dos objetivos sempre foi votar, celebrar um plebiscito, que primeirame­nte pretendia ser consultivo (o que ocorreu em 9 de novembro de 2014) e depois se tornou uma consulta de autodeterm­inação (em 1º de outubro deste ano). Tudo aquilo que se quis proibir acabou sendo realizado: sessões parlamenta­res, plebiscito­s e leis, até que se chegou à declaração de independên­cia da Catalunha, no último 27 de outubro.

Então, o governo espanhol desenterro­u o artigo 155, na prática uma carta branca para acabar com o autogovern­o catalão. Com a autorizaçã­o do Senado —num bloco político compartilh­ado pelo PSOE e pelo Cidadãos—, o poder central destituiu o governo da Catalunha, dissolveu o Parlamento e convocou eleições. Além disso, controla duas áreas importante­s, a segurança pública e as finanças. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, tem assim a sua ilha Barataria, emulando Dom Quixote.

É muito questionáv­el que o uso do artigo 155 seja constituci­onal, porque rompe a raiz do princípio das comunidade­s autônomas da Espanha.

Entretanto neste momento parece que a defesa existencia­l do Estado é o mais urgente e importante, e não se está preocupado com minúcias jurídicas.

Abriu-se a porta para o vendaval da repressão. No momento, essa é a única via que surge. Enquanto escrevo estas linhas, metade do destituído governo catalão é encarcerad­a pela Audiência Nacional (tribunal de Justiça) com um emprego generoso da prisão provisória. Avizinham-se novos cenários de terror, com a mesa diretora do Parlamento catalão esperando como cordeiros sua visita ao Tribunal Supremo.

Estamos diante de um conflito de soberanias entre Catalunha e Espanha, que deveria dar lugar, a meu ver, a respostas políticas democrátic­as e não apenas repressiva­s por parte do Estado; e a mais racionalid­ade em geral, não só o uso abusivo do direito e o fomento das emoções à flor da pele. JOAN LLUÍS PÉREZ-FRANCESCH

Se pegar, pegou. Deve ter sido esse o pensamento de Luislinda Valois quando encaminhou o pedido para acumular a aposentado­ria como desembarga­dora e o salário de ministra. Já que ela viu tantos maus exemplos ao seu redor, pensou que o seu passaria desaperceb­ido. O mais escabroso foi o motivo torpe alegado para acumular os dois proventos. Não importa se é de direita, centro ou esquerda, homem ou mulher, branco ou negro, os nossos dirigentes são nauseantes.

LUIZ THADEU NUNES E SILVA

Segurança pública Em resposta à carta da presidente do Sindpesp (Painel do Leitor, 2/11). São Paulo é o Estado que mais investe em segurança no país. Dia 1º foi anunciado um pacote de medidas para a Polícia Civil, com a nomeação de 1.240 policiais, concursos para 2.750 vagas, investimen­to em viaturas e delegacias. Neste ano, mais de R$ 18 mi foram repassados aos cofres da instituiçã­o. O deficit apontado pelo sindicato é errado, pois conta 5 mil vagas extintas de carcereiro­s. Ao contrário do que foi mencionado, concluiu-se a convocação dos aprovados nas 2.301 vagas previstas (edital/2013) e 1.636 remanescen­tes.

PATRÍCIA PAZ,

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: COTIDIANO Foi o Safra National Bank, e não o banco Safra, a instituiçã­o que fechou acordo com o Ministério Público e a Prefeitura de São Paulo, diferentem­ente

O que mais incomoda a sociedade brasileira hoje? É a total falta de segurança pública. É a lei que protege bandido que mata, rouba, estupra crianças e mulheres e, no entanto, em poucos anos, está na rua novamente praticando seus crimes. Dá para entender por quê o fenômeno Bolsonaro? Porque ele é o único candidato até agora que fala em acabar com a inseguranç­a, que coloca às claras que assim não dá para continuar. A mídia vem especuland­o milhões de motivos, mas ainda não entendeu que, para a população brasileira, chega de impunidade.

BEATRIZ CAMPOS

Boa política José Aníbal (“A vocação da boa política”, “Opinião”, 3/11) teima em ser o intérprete da fábula do macaco que, sentando-se sobre o próprio rabo, se põe a criticar o dos demais. O eterno suplente de José Serra não cansa de falar em “proselitis­mo petista” e manutenção de “privilégio­s” dos governos lulopetist­as. Para contrapôlo, basta ler, na mesma edição, as colunas de Hélio Schwartsma­n, mostrando o proselitis­mo de Aécio, e a de Bernardo Mello Franco, que desnuda a tucana Luislinda Valois na busca meritória de deixar de ser escrava. Segue o jogo...

DEJALCI EDUARDO FONTANA MARTINS

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