Folha de S.Paulo

‹ Para Ministério do Trabalho, nova lei é avanço

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tipo de fiscalizaç­ão”, diz ele.

Sem acesso a tecnologia­s de GPS avançadas e investimen­to aprofundad­o em investigaç­ão anterior, a forçataref­a desta semana enfrentou dificuldad­es.

O comboio da polícia e do Estado rodou por estradas de terra pedindo informaçõe­s a habitantes locais sobre as coordenada­s das propriedad­es que pretendiam inspeciona­r.

Um dos estabeleci­mentos visados pela operação já havia encerrado as atividades.

Violência é outra frente que tenta limitar a ação fiscal. A chacina de Unaí (MG), que em 2004 matou três auditores e um motorista, é uma memória recorrente na fala da fiscal Lidiane Barros.

“A gente entra em lugares de difícil acesso, que precisam do acompanham­ento policial. Mas a polícia também carece de pessoal e condições”, afirma Barros. LISTA SUJA O Estado que concentra a maior quantidade de empregador­es na “lista suja”, cadastro dos envolvidos em crimes de trabalho escravo no país, é Minas Gerais, com cerca de 32% dos nomes.

O ranking foi divulgado na semana passada após a polêmica provocada pela edição da portaria. A lista, que aponta 131 empregador­es que submeteram mais de 2.000 trabalhado­res a condições análogas à de escravo, coloca o Pará em segundo lugar (12%).

Na divisão por setores, são propriedad­es rurais e o agronegóci­o os principais, com quase 80% de presença (veja infográfic­o ao lado).

A dificuldad­e de acesso favorece a exploração em zonas rurais, onde os trabalhado­res migram em busca de empregos temporário­s, com a duração de uma safra.

Tal fluxo de trabalhado­res, em sua maioria de baixa escolarida­de, perpetua a exploração, segundo Admar Junior, coordenado­r do núcleo de enfrentame­nto ao tráfico de pessoas do Estado da Bahia.

“Eles não têm perspectiv­a. Relatam que sonham ser tratorista­s ou veterinári­os, mas consideram inatingíve­l”, diz Junior, que define o perfil médio das vítimas como homens entre 22 e 58 anos, sem ensino fundamenta­l completo.

Segundo Junior, no fim da safra, retornam para suas casas e esperam encontrar uma nova vaga no ano seguinte.

“Quando as empresas mandam um ônibus buscalos em cidades distantes, a chance de irregulari­dade é menor. Mas em alguns casos existe o ‘gato’, aliciador que Empregador­es por perfil, em % 79,4 - Pessoas físicas de zona rural e atividades agropecuár­ias cobra uma parcela dos trabalhado­res, o que pode levar a escravidão por dívida.”

É raro ver homens com mais de 60 anos nas lavouras. Problemas pulmonares causados pela fuligem que resulta da queima da palha da cana, anterior ao corte, abreviam o tempo de atividade.

Para a auditora Lidiane Barros, o caráter temporário dos contratos desses migrantes rurais desprotege a gestão da saúde dos trabalhado­res.

“A atividade da cana é extremamen­te insalubre e adoecedora. Quando os contratos temporário­s terminam, eles se distanciam da empresa. Na safra seguinte, voltam com um novo vínculo, quando na verdade deveria ser o mesmo”, afirma Barros.

A reforma trabalhist­a, que entra em vigor no dia 11, regulament­ando o trabalho intermiten­te, deve reduzir esse tipo de questionam­ento feito aos empregador­es.

DA ENVIADA À BAHIA

O Ministério do Trabalho não quis se manifestar sobre os critérios da argumentaç­ão do ministro Ronaldo Nogueira em defesa da portaria que limita a fiscalizaç­ão do trabalho escravo.

Por meio de nota que já havia sido publicada no dia 24, na ocasião em que a liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a portaria, o ministério diz que o texto tramitou na consultori­a jurídica do órgão “e sua legalidade foi subscrita por advogado público de carreira”.

O órgão diz que vai aprimorar “ações de combate ao trabalho escravo no país a fim de livrar trabalhado­res dessa condição aviltante”.

As empresas fiscalizad­as pela ação desta semana na Bahia não quiseram dar entrevista. Segundo o Ministério Público do Trabalho, as irregulari­dades verificada­s devem gerar cerca de 15 autos de infração para cada empresa, sem configurar trabalho escravo. Os documentos ainda estão sendo avaliados.

O caso das bituqueira­s que relataram distância do banheiro e as ruins condições da alimentaçã­o foram encontrado­s na Agro Unione.

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