Método não é panaceia e exige critérios
DE SÃO PAULO
Avaliações de impacto são importantes, mas devem ser usadas com critério, dizem profissionais envolvidos com o tema. “Não é panaceia”, afirma Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social.
A construção de um bom sistema de monitoramento tem de preceder a avaliação e, muitas vezes, ressalta ela, já é suficiente para indicar se o programa está indo na direção certa.
O estágio inicial deve definir bem os objetivos da política. Com base nisso, são estabelecidos os indicadores que serão monitorados. E, por fim, desenhadas as perguntas a que a avaliação precisará responder.
“O fundamental é entender o que você quer atingir”, afirma Maurício de Almeida Prado, diretor-executivo da Plano CDE.
No Brasil, políticas públicas e ações sociais de empresas raramente têm essa questão bem definida antes de serem implantadas.
Existe ainda uma confusão conceitual muito comum entre impacto e alcance.
“Ainda se ressalta muito que certo programa já atinge x milhões de pessoas, como se isso fosse seu impacto, e não é”, diz Guilherme Lichand, sócio da MGov.
Impacto é a mudança que a política acarretou para o beneficiário. Por isso, busca-se estimar como seria sua vida se aquela intervenção não tivesse sido feita.
“O maior convencimento sobre a importância de avaliar políticas públicas é uma vitória do bom senso. Mas, ao tornar algo politicamente correto, surge a preocupação de que façam qualquer coisa e saiam falando que é avaliação de impacto”, diz Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.
O Nobel de Economia Angus Deaton ressalta em seu livro “A Grande Saída” que “ONGs têm muitos incentivos para reportar sucessos e esconder fracassos, pois disso depende o levantamento de fundos”.
Mesmo quando o impacto é bem medido, muitas vezes a avaliação precisa ser complementada com entrevistas com os beneficiários, que ajudam a entender como o efeito de uma mesma política pode variar conforme o contexto.
Uma crítica às avaliações é que o resultado obtido em um projeto específico nem sempre pode ser generalizado para outras realidades.
“Não há razão para supor que o que funciona em um lugar funciona em outro”, diz Deaton. Ele aponta que “burocratas de carne e osso não implantam políticas com tanto afinco como acadêmicos do Banco Mundial”.
Paes de Barros ressalta que, embora pertinentes, as críticas não justificam deixar de avaliar. “Não podemos prescindir de avaliação quando gastamos um percentual grande do PIB com política social.”