Folha de S.Paulo

O CRIME REFEITO

- DOMINGO, 5 DE NOVEMBRO DE 2017 GUSTAVO FIORATTI JULIA ALVES

Está aberta a temporada de caça a quem, a valer, sempre esteve com a faca na mão. Os estúdios norte-americanos identifica­ram que o telespecta­dor estava com saudade do selo “baseado em fatos reais” decalcado em assassinos.

Pobre Hannibal, sua última performanc­e não foi tão boa. O personagem criado pelo escritor Thomas Harris retornou em série homônima da NBC. Sofreu com a audiência e durou de 2013 a 2015.

A safra dos psicopatas que de fato habitaram os jornais foi ganhando volume; “Mindhunter”, por fim, acertou no alvo. A série apresenta, na Netflix, desde o mês passado, não um, mas uma galeria de criminosos conhecidos.

Ela é baseada no livro “Mindhunter: o Primeiro Caçador de Serial Killers Americano”, de Mark Olshaker e John Douglas, publicado nos EUA em 1995 e que ganhou recentemen­te edição no Brasil pela Intrínseca (384 págs., 39,90). Retrata o berço de um departamen­to do FBI que estuda a mente de criminosos.

Ed Kemper, Charles Manson, Dennis Rader passeiam pela série de dez capítulos. Mas, fora dela, há ainda muitas outras mentes criminosas.

Charles Manson, que liderou um grupo em matanças nos anos 1960, também foi relembrado por “Aquarius”, em 2015 e 2016. E “Law & Order” filmou neste ano o parricídio cometido pelos irmãos Menendez em Beverly Hills.

“Alias Grace”, que a Netflix lançou nesta sexta (3), toma distância do bando, em especial pelo foco numa mulher. Em meados do século 19, Grace Marks foi acusada de matar seu patrão, um fazendeiro, e a governanta da casa onde trabalhava, em conluio com James McDermott.

A série é baseada em romance (que por sua vez bebe de fontes históricas) de Margaret Atwood, autora levada às telas neste ano em outra adaptação de sucesso, “Handmaid’s Tale”, da Hulu, premiada em cinco das categorias mais importante­s do Emmy. EM SÉRIE Douglas trabalhou como agente do FBI. O coautor do livro em que “Mindhunter” se baseia conta à Folha que a adaptação demorou anos para se realizar após ser proposta

Os assassinat­os relembrado­s em seriados de TV CHARLES MANSON

Foi líder de um grupo que cometeu pelo menos nove assassinat­os no fim dos anos 1960. O mais conhecido é o da atriz Sharon Tate, de 26 anos, mulher do diretor de cinema Roman Polanski. Ela estava grávida de oito meses e foi morta a facadas. Manson hoje tem 82 anos e ainda cumpre pena nos EUA. Foi relembrado em “Aquarius”, da NBC,em“Mindhunter”, da Netflix, e será tema de filme de Quentin Tarantino

DENNIS RADER

Matou oito mulheres e dois homens no Kansas entre 1974 e 1991. Vestia a roupa de suas vítimas femininas para fazer fotos. Foi preso em 2005. A figura dele também está em “Mindhunter”, da Netflix por Charlize Theron (que a produz, com David Fincher).

“Hoje os crimes se tornaram um fenômeno cultural, mas o seriado se passa em um momento que a expressão ‘assassino em série’ nem mesmo existia. Nós mostramos o começo de tudo”, conta Jonathan Groff, que interpreta a versão fictícia de Douglas.

Para ele, essas séries permitem que a sociedade explore sentimento­s desconheci­dos. “Ainda somos extremamen­te reprimidos. Desta forma, as pessoas podem falar

GRACE MARKS E JAMES MCDERMOTT

Empregados na casa de Thomas Kinnear, foram acusados de matá-lo. A governanta, que era amante de Kinnear, também foi vítima do assassinat­o. Foram condenados à morte em 1843. Ele foi enforcado, e ela passou 30 anos na prisão, até ser perdoada. O crime é relembrado agora na série “Alias Grace”, que estreou na Netflix nesta sexta (3) sobre violência e sexualidad­e sem se prenderem a isso.”

A série dispensa as clássicas cenas de perseguiçã­o e violência, apresentan­do a rotina de assassinos e detetives.

“As cenas de diálogos correspond­em às cenas de ação”, diz o ator, referindo-se às descritiva­s conversas nas quais assassinos detalham como cometeram os crimes. “Não são vilões de histórias em quadrinhos, mas seres humanos”, explica.

“Mindhunter” já teve sua segunda temporada confirmada, e Douglas garante que a maior parte dos crimes narrados no livro será retratada. “Os roteirista­s terão muitos casos terríveis para escolher.” FASCINAÇÃO Os retratos em questão não deixam o horror tomar o primeiro plano. Disparam sentimento­s mistos entre os personagen­s, quiçá até simpatia, como no caso de Ed Kemper, o primeiro psicopata de uma série que o protagonis­ta de “Mindhunter” entrevista.

“O YouTube oferece registros de conversas com ele [Kemper], todas elas fascinante­s e horríveis”, publicou em rede social Cameron Britton, intérprete do sujeito que matou sua mãe, seus avós e pelo menos seis garotas.

A franja penteada com esmero —do lado esquerdo para o direito— cria a identidade da figura metódica e asseada, que ficou conhecida por sua educação e eloquência.

Esse perfil pode ser conferido nas entrevista­s que Kemper concedeu e que deram base ao personagem. Elas estão no YouTube e dão voz a um homem que também é capaz de falar sobre suas amizades pelos amigos carcereiro­s. As declaraçõe­s deram base a um trecho da série em que o personagem declara: “Eles gostam de mim pois podem conversar comigo coisas que não falam para suas mulheres”.

OS IRMÃOS LYLE E ERIK MENENDEZ

Foram condenados à prisão perpétua pelo assassinat­o à bala de seus pais em Bervely Hills, em 1989; Lyle tinha 21 anos, e Erik, 18. Eles disseram ter sido vítimas de abuso dos pais durante anos. O crime foi retratado em episódios de “Law & Order”, da NBC

 ??  ?? O ator Cameron Britton vive o psicopata Ed Kemper (na foto à frente) em ‘Mindhunter’
O ator Cameron Britton vive o psicopata Ed Kemper (na foto à frente) em ‘Mindhunter’
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil