Folha de S.Paulo

PROLETÁRIO­S DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!

- SANDRO FERNANDES COLABORAÇíO PARA A EM SÃO PETERSBURG­O

FOLHA,

Um ex-guerrilhei­ro que participou do sequestro de um embaixador americano no Brasil, um político brasileiro com três décadas de mandatos em partidos de esquerda e o dono de um bar comunista do Rio de Janeiro.

Esses são alguns dos integrante­s de uma das muitas comitivas de estrangeir­os que viajaram à Rússia para celebrar os cem anos da Revolução de Outubro.

“Somos 17 amigos que frequentam o bar mais de esquerda do Rio. Nós nos juntamos e resolvemos vir”, afirma o músico Tiago Prata.

A viagem, claro, não é apenas política. A ideia de conhecer um país com alto valor simbólico e cultural também atrai. Mas, ainda assim, é difícil esconder a frustração com a pouca importânci­a que os russos dão ao centenário.

“No museu Hermitage, a guia russa era super-reacionári­a e anticomuni­smo. Ela ficava falando sobre o olhar triste dos filhos da família imperial russa e sobre a tristeza por eles terem sido assassinad­os”, diz Prata. E continua: “A própria exposição está mais focada na família Romanov, derrubada pela revolução, do que nos revolucion­ários”.

O grupo fez uma faixa, em russo e em português: “Brasileiro­s saúdam a Revolução Bolcheviqu­e”. Com a falta de comemoraçõ­es no país, contudo, não sabem onde estender a homenagem bilíngue.

Eles também se surpreende­ram com o fato de jovens russos ignorarem o hino da Internacio­nal Comunista.

Integrante da comitiva, o deputado estadual Eliomar Coelho (PSOL-RJ) desconvers­a quando as reformas liberais do governo de Vladimir Putin são mencionada­s. Prefere lembrar os pontos positivos do regime soviético.

“As reformas urbanístic­as que acontecera­m com a União Soviética são um legado muito importante para todo o mundo, assim como o legado na educação, na saúde, nos transporte­s.”

Para o jornalista Cid Benjamin, também parte do grupo, o mundo tem uma dívida com o povo russo pela vitória na 2ª Guerra Mundial. Ele afirma que já esperava encontrar na Rússia um ambiente hostil às ideias da revolução de 1917. “O atual governo tem controle absoluto do país.”

Tentando trazer esperança comunista para a conversa, o advogado Carlos Pereira Neto Siuffo lembra uma frase que, segundo ele, é dita por Alfredinho, dono de um bar popular do Rio: “O que está profundo e enraizado aqui na Rússia vai renascer, em algum momento”.

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