Rivalidade
Entre Palmeiras e Corinthians, que tem novo e decisivo capítulo neste domingo, acirra ânimos a ponto de causar briga de casais
O palmeirense Rui Christofoletti, 42, sentado no sofá da sala, assistia pela televisão à partida de seu time contra o Cruzeiro na última segundafeira (2). O otimismo foi interrompido pelo gol contra marcado pelo zagueiro Juninho, ainda no primeiro tempo. O jogo acabaria em 2 a 2.
Com o canto do olho, viu a mulher, a corintiana Arlene Fontanetti, 42, agitar-se ao seu lado. Aquilo ajudou a azedar seu humor. “Acho que vou para o quarto”, ela disse.
Ficou lá pelo restante da partida. Após anos de relacionamento, o casal estabeleceu os limites de convivência.
Um faz de conta não dar importância para o time do outro. O que, nesta semana, será impossível, já que Corinthians e Palmeiras fazem confronto decisivo pelo título do Brasileiro no domingo (5), na Arena Corinthians.
Clássico que, dependendo do resultado, vai dar motivos tanto para corintianos quanto para palmeirenses alimentarem ainda mais a grande rivalidade que existe entre as duas torcidas de São Paulo.
“Nem sempre foi assim [a convivência futebolística do casal]. A gente já teve discussões até na lua de mel”, afirmou Christofoletti, engenheiro, professor e diretor de escola na cidade de Rio Claro (175 km de São Paulo), onde Arlene é professora.
A viagem de celebração de casamento ocorreu na semana de 2012 em que o Corinthians ganhou a Libertadores, a primeira do clube.
Em Gramado, na Serra Gaúcha, Arlene flagrou Rui torcendo contra sua equipe na final e se irritou. A discussão e o posterior título da equipe sobre o Boca Juniors, da Argentina, fizeram o marido ir dormir emburrado.
“Com o tempo, a gente encontrou uma maneira mais
RUI CHRISTOFOLETTI, 42
engenheiro e palmeirense ARLENE FONTANETTI, 42 professora e corintiana
CLAUDIA SAMAMEDE,33
palmeirense fácil de torcer sem um aborrecer o outro”, observou ela.
Cinco pontos atrás do Corinthians, líder do campeonato, o Palmeiras terá a chance neste domingo de dar uma cartada decisiva para se aproximar da ponta. Uma vitória para os corintianos deixará o time perto do segundo troféu nacional em três anos. E do sétimo brasileiro da história do clube alvinegro.
De acordo com pesquisa Datafolha publicada em fevereiro deste ano, 36% da população da cidade de São Paulo torce para o Corinthians. A terceira maior torcida é do Palmeiras, com 12%. Trata-se de um universo de 5,7 milhões de pessoas. Não é improvável encontrar na capital do Estado casais que estarão divididos neste domingo.
“Eu sempre namorei corintianos. Incrível. Meu pai chegou a se irritar com isso. Perguntava por que eu não encontrava um palmeirense para casar”, lamentou, aos suspiros, Claudia Samamede, 33.
A palmeirense é casada com Matheus Oliveira, 36, corintiano. O casal mora na Mooca, reduto da colônia italiana na capital. “Com o tempo, a gente se acostuma, mas às vezes é difícil. Domingo vai ser um desses dias”, contou.
Matheus riu com a observação da mulher. Disse que ela é mais fanática por futebol que ele —o que Claudia contesta enfaticamente.
Ambos já perderam as contas de quantas vezes brigaram por causa de seus times.
“
A gente já teve discussões até na lua de mel “
Encontramos uma maneira de torcer sem um aborrecer o outro “
Sempre namorei corintianos. Meu pai chegou a se irritar com isso
SÉRIE B Claudia afirmou (e Matheus concordou) que a mãe de todas as discussões aconteceu em 18 de novembro de 2012, quando o Palmeiras foi rebaixado para a Série B pela segunda vez em sua história. O marido zombou das lágrimas da mulher. Ficaram sem se falar por três dias.
“Depois disso, melhorou. A gente aprendeu mais sobre os limites do outro. Não aconteceu mais”, avaliou Matheus, sem saber ainda como vai ser se o Corinthians bater o Palmeiras neste outro domingo de novembro.
“Ele pode ficar feliz, comemorar, ir beber com os amigos. Mas não venha me aborrecer!”, advertiu ela.
Por causa do amor, o casal de Rio Claro também faz concessões. Arlene lembrou que uma vez (e apenas uma vez), torceu para o Palmeiras ganhar um jogo só para ver Rui de melhor humor. Esperava a reciprocidade. Até agora, espera sentada.
“Isso não dá! Torcer para o Corinthians… Não tem como acontecer”, ele descartou.
Para recompensar a mulher, até já prometeu realizar um desejo que Arlene tem há tempos: ir a uma partida no Itaquerão. Não que ele tenha tanta pressa assim. Está adiando há algum tempo.
Até sugeriu visitar primeiro o Allianz Parque, na zona oeste da cidade, porque, segundo ele, “é mais bonito”, “mais central”… Mais tudo.
Arlene se ofende quando escuta a brincadeira de que “corintiano é bandido”, honrando sua família recheada de torcedores do clube de Parque São Jorge. Rui se irrita com a piada cada vez mais recorrente entre os rivais de que o “Palmeiras não tem mundial”, ao estilo do pai palmeirense que, quando o time perdia, passava dias emburrado.
Não que seja fácil sempre, mas o amor vence no fim. Ou ao menos até este domingo.