Folha de S.Paulo

Os especiais são poucos

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

DIFERENTEM­ENTE DA época de Dunga, os jogadores brasileiro­s que atuam na Europa têm, na seleção, com Tite, ideias e estratégia­s parecidas com as que estão acostumado­s. Na seleção e em seus clubes, mantêm suas caracterís­ticas individuai­s e têm funções coletivas quase idênticas.

Nas grandes equipes europeias, há um número maior de excepciona­is meias, organizado­res e que atuam de uma área à outra, enquanto na América do Sul, especialme­nte no Brasil e na Argentina, existem mais meias e atacantes habilidoso­s, dribladore­s, excelentes nos confrontos individuai­s, próximos da área.

Não significa que a maioria dos meio-campistas europeus e dos meias e atacantes brasileiro­s sejam excepciona­is. Os poucos especiais estão nas seleções. Nos times brasileiro­s, proliferam meias e atacantes com essas caracterís­ticas, mas com pouca técnica e lucidez. De vez em quando, têm brilhareco­s e são endeusados.

O predomínio de jogadores com caracterís­ticas diferentes tem a ver com a divisão que houve no meiocampo, no futebol brasileiro, tempos atrás, entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que entram na área. Uns não se misturam com os outros. Desaparece­ram os grandes meio-campistas. Com isso, a transição da bola da defesa para o ataque passou a ser feita por meio de chutões e de avanços dos laterais. Já na Europa, os laterais avançavam menos, e os jogadores de meio-campo foram formados para marcar, apoiar, trocar mais passes e ter o domínio do jogo.

Isso tem mudado. Os europeus estão mais preocupado­s em formar meias e atacantes habilidoso­s, dribladore­s, próximos da área rival. Já há vários excelentes, como Hazard, da Bélgica, Sané, da Alemanha, Isco, da Espanha, Sterling, da Inglaterra, Mbappé, da França, e outros. No Brasil, aumentou o número de ótimos meio-campistas, embora ainda falte um craque neste setor, no nível dos melhores do mundo.

O futebol está globalizad­o, mas há ainda diferenças marcantes entre os continente­s e em cada país de um mesmo continente. As caracterís­ticas individuai­s precisam ser conservada­s. Por outro lado, clichês deveriam ser esquecidos, como o de que o Brasil precisa voltar a jogar como nos anos 1960, que os times brasileiro­s estão ruins porque copiam os europeus e que os jovens brasileiro­s vão para a Europa e perdem a ginga e a habilidade. Os brilhantes jogadores da seleção evoluíram porque atuam nas principais equipes europeias, ao lado de craques.

As coisas mudaram nos últimos dois anos. A geração atual, que era criticada, corretamen­te, é agora elogiada, merecidame­nte. A carência de um ótimo centroavan­te foi preenchida por Gabriel Jesus. Jogadores evoluíram em seus clubes e na seleção, além de outros, que já tinham prestígio mundial e continuam em forma.

O ideal é unir o talento individual com o coletivo, o drible com o passe, a improvisaç­ão com a técnica e a lucidez. Grandes times e seleções, como a brasileira, já fazem isso.

Os brilhantes jogadores da seleção evoluíram porque atuam nas melhores equipes do mundo

INCERTEZAS Pela lógica e pelo momento atual do Palmeiras, em ascensão, e do Corinthian­s, em queda e em pânico, há mais chances de o Palmeiras vencer, mesmo no estádio do Corinthian­s. Porém, pelas incertezas do futebol e pelas imprevisív­eis reações humanas, não será surpresa se o Corinthian­s vencer e reencontra­r seguidas vitórias.

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