Folha de S.Paulo

Depois do terror

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SÃO PAULO - Quantas pessoas o saudita Osama bin Laden, com seu pelotão de suicidas alucinados, assassinou no dia 11 de setembro de 2001? Segundo as cifras oficiais, 2.958. Na realidade, foram mais.

O medo de viajar de avião, que se espalhou depois da catástrofe, levou muitas pessoas a optar por longos deslocamen­tos de automóvel, uma alternativ­a de maior letalidade.

O psicólogo alemão Gerd Gigerenzer estimou esse efeito para os três meses que se seguiram aos ataques e chegou a algo como 350 mortes que não teriam ocorrido nos EUA caso os hábitos dos viajantes tivessem se mantido. O número supera a cifra total de 266 vítimas nos quatro aviões destruídos pelos terrorista­s.

Nos anos 1980, o americano Paul Slovic confirmou a percepção geral de que as pessoas evitam situações em que muitos podem morrer num mesmo local e num mesmo momento. Dispõem-se a tomar riscos bem maiores quando as fatalidade­s estão dispersas no tempo e no espaço.

Essa dificuldad­e inata do ser humano de lidar com a abstração das probabilid­ades cria um enrosco para as políticas públicas que tem largas e danosas consequênc­ias. A quantidade de recursos financeiro­s que o temor descolado das taxas de risco carreia para as rubricas de segurança fará falta na saúde, na educação, na inovação, na infraestru­tura e mesmo na prevenção das fatalidade­s difusas que são subestimad­as.

A onda do terrorismo atropelado­r de pessoas, agora em Manhattan, não só afugenta turistas. Chancela, movida a pânico vários decibéis acima do risco real, políticas de restrição a imigrantes que repercutir­ão no bem-estar material das nações e na tendência mundial ao belicismo e à intolerânc­ia nas próximas décadas.

A cloaca máxima das redes sociais potenciali­za as ondas de medo e as reações exageradas das autoridade­s. Sangue frio e foco nas evidências é o que os governante­s responsáve­is mais deveriam buscar nessa quadra. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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