Folha de S.Paulo

Tribunal Superior Eleitoral mesmo que o TRF-4 confirme a condenação imposta pelo juiz paranaense.

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DE SÃO PAULO

O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin, afirmou que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux está fazendo “prejulgame­nto” e desafiando “o ordenament­o jurídico internacio­nal” ao afirmar não fazer “muito sentido” que um denunciado à Justiça, como é o caso do petista, concorra à Presidênci­a.

Em entrevista à Folha publicada no domingo (5), Fux disse que falava “abstratame­nte” sobre a situação de Lula e afirmou: “Quando o presidente [da República] tem contra si uma denúncia recebida, ele tem que ser afastado do cargo”.

“Ora, se o presidente é afastado, não tem muito sentido que um candidato que já tem uma denúncia recebida concorra ao cargo”, completou.

O magistrado invocou ainda “valores republican­os” e “o princípio da moralidade nas eleições”. Afirmou não estar “concluindo”, mas disse que “são perguntas que vão se colocar”.

Segundo Zanin, Fux “desafia um ordenament­o jurídico internacio­nal ao prever que a candidatur­a seja barrada pela existência da denúncia”.

Para ele, “isso não está previsto na lei nem na Constituiç­ão”. “Portanto, é uma restrição infundada. E o artigo 25 do Pacto Internacio­nal de Direitos Civis diz textualmen­te: nenhuma restrição infundada pode ser colocada para impedir o direito de ser eleito em eleições periódicas”.

Lula não apenas foi denunciado à Justiça como já tem uma condenação em primeira instância, de 9,5 anos de prisão, determinad­a pelo ju- iz Sergio Moro, do Paraná.

Ele apelou ao TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). O caso deve ser julgado antes das eleições de 2018. Caso a corte confirme a condenação, Lula poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que torna inelegívei­s candidatos condenados por tribunais de segunda instância.

O PT acredita que o STF poderia garantir a candidatur­a do petista, por meio de liminar. O partido pretende ainda inscrever a candidatur­a no REAÇÃO DO PT A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, também reagiu às declaraçõe­s do magistrado.

“O ministro Fux quer restabelec­er a lei da ditadura, usada para tirar da disputa os que eram acusados com fundamento na Lei de Segurança Nacional?”, questio- nou a senadora em nota.

No mesmo texto, ela divulgou declaraçõe­s do advogado paranaense Luiz Fernando Pereira. Ele é autor de um parecer sobre a legalidade da candidatur­a de Lula, ainda que condenado.

Segundo ele, uma lei de 1970, da ditadura militar, dizia que eram inelegívei­s os candidatos que tinham “denúncia recebida”. O TSE chegou a considerar a regra inconstitu­cional mas o STF, “com ministros nomeados pelos militares”, estabelece­u a validade da lei.

“No entanto, com a volta da democracia, para as eleições de 1982, a regra foi alterada, exigindo-se prévia condenação para a inelegibil­idade”, afirma ele.

O ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff (PT) e subprocura­dor-geral da República aposentado Eugênio Aragão qualificou de “irresponsá­veis” as afirmações do ministro do STF sobre a candidatur­a de Lula.

Para Aragão, que atualmente exerce a advocacia, Fux não deveria apresentar manifestaç­ões sobre um tema sobre o qual poderá vir a julgar na corte superior.

De acordo com o ex-ministro, a legislação não prevê impediment­o a candidatur­as de denunciado­s à Justiça.

“Um ministro do STF não pode ficar realizando interpreta­ções extensivas e inventar uma hipótese que não está na lei”, afirmou. (MÔNICA BERGAMO E FLÁVIO FERREIRA)

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Nacho Doce - 14.set.2016/Reuters O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula em ações penais

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