Rússia investiu no Twitter e no Facebook
Documentos vazados mostram que duas estatais do país financiaram a compra de ações das duas companhias
Arquivo, que cita rainha Elizabeth e secretário de Trump, não indica crime, mas expõe rede de interesses políticos
Estatais russas financiaram aplicações no Facebook e no Twitter por meio de um investidor russo que é sócio do genro do presidente americano, Donald Trump.
As informações integram um lote de documentos chamado “Paradise Papers” e divulgado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos neste domingo (5).
Segundo os documentos, o dinheiro das estatais russas VTB —segundo maior banco do país— e a Gazprom —do setor de gás— foi usado por um fundo para comprar ações das duas gigantes de tecnologia entre 2009 e 2011.
Antes de chegar ao destino, o dinheiro passou por fundos ligados ao empresário russo Yuri Milner, especializado no Vale do Silício.
Ele já atuou na comissão de inovação do Kremlin e é próximo do premiê russo, Dmitri Medvedev, aliado de Vladimir Putin. Milner também é sócio na start-up Cadre, que tem como fundador Jared Kurshner, genro de Trump e seu conselheiro.
A revelação de que dinheiro ligado ao Kremlin foi usado na compra de ações das empresas de tecnologia ocorre no momento que se investiga a interferência russa na eleição presidencial de 2016, incluindo a compra de anúncios e posts patrocinados no Twitter e no Facebook.
Os investimentos das estatais russas e de Milner nas duas empresas foram liquidados antes do início da campanha eleitoral americana.
Não há, por ora, indício de crime. Mas os documentos jogam luz sobre atividades financeiras e interesses de atores centrais da política e da economia norte-americana.
A informação de que Milner investiu nas empresas já era pública —em dado momento, ele chegou a controlar 8% das ações do Facebook e 5% do Twitter. Mas não se sabia que parte do aporte vinha de estatais russas.
O dinheiro chegou às empresas americanas através da DST Global, holding controlada por Milner. O VTB pagou US$ 191 milhões (R$ 630 milhões) para um fundo da DST que investiu o valor em papéis do Twitter. E uma subsidiária da Gazprom emprestou US$ 920 milhões (R$ 3 bilhões) à Kanton, empresa dona de um fundo da DST tinha vazados por uma fonte anônima para o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung”, que compartilhou as informações com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) e com 96 veículos internacionais, o mesmo grupo responsável pela série “Panama Papers” em 2016. A maior parte dos 13,4 milhões de arquivos divulgados é da Appleby, empresa especializada na criação de offshores.
Outros líderes também aparecem na lista, como a rainha britânica Elizabeth 2ª.
Documentos mostram que parte da fortuna pessoal dela está em paraísos fiscais e foi usada para investir na rede varejista BrightHouse, empresa acusada de violar uma série de leis de proteção aos consumidores no Reino Unido.
Não há, porém, indício de ilegalidade. A rainha disse desconhecer o alvo dos investimentos, feitos há 12 anos.
Em nota, a Transparência Internacional comemorou as novas revelações e disse que elas mostram que o atual sistema de controle internacional está “quebrado” e que as autoridades devem agir para melhorar a fiscalização.