Folha de S.Paulo

Líder catalão se entrega à polícia belga

Justiça da Bélgica permite que Puigdemont espere em liberdade trâmite de extradição, desde que siga convocaçõe­s

- DIOGO BERCITO

Ex-presidente regional da Catalunha é acusado de rebelião por Madri junto com membros de gabinete separatist­a

Após desafiar o Estado espanhol com seu projeto separatist­a, o ex-presidente regional da Catalunha Carles Puigdemont foi colocado sob custódia policial por horas neste domingo (5) após se entregar às autoridade­s belgas.

Ele se apresentou a uma delegacia de Bruxelas, onde estava foragido desde o início da semana, para depor.

Horas antes de vencer o prazo na manhã desta segunda (6), a Justiça local decidiu que o político pode aguardar em liberdade enquanto tramita a extradição pedida por Madri, desde que compareça sempre que convocado.

Ao se apresentar, Puigdemont estava acompanhad­o de quatro de seus ex-conselheir­os, também abrigados na Bélgica, e de seus advogados.

O grupo é acusado de rebelião, crime que pode levar a 30 anos de prisão na Espanha, sublevação, fraude, desobediên­cia e prevaricaç­ão.

A Espanha havia emitido na sexta (3) um mandato internacio­nal de busca e apreensão. O governo central espanhol alertou os separatist­as por semanas de que estavam cometendo um crime.

Há, no entanto, um processo burocrátic­o a ser cumprido antes que e Bélgica extradite o político separatist­a. Os passos legais podem levar até três meses —emaranhand­ose com a eleição regional, antecipada por Madri para 21 de dezembro próximo.

O ex-presidente Puigdemont pode, em tese, concorrer ao pleito caso não tenha sido condenado, e já anunciou ter planos de fazê-lo. Sua aliança eleitoral, o PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão), decidiu que ele liderará a coalizão na disputa.

“A Espanha exerce [na Catalunha] o direito de conquis- ta”, afirmou a coordenado­ra geral do grupo, Marta Pascal. “Queremos que o presidente Puigdemont lidere uma grande lista no dia 21 de dezembro”, da qual constarão “todos os presos políticos.” PROTESTOS Embora amparado na Constituiç­ão, no Código Penal, nos principais partidos políticos e no apoio dos vizinhos europeus, o governo da Espanha enfrentará resistênci­a à criminaliz­ação de Puigdemont. Houve protestos na Catalunha, incluindo neste domingo, contra as prisões.

A Bélgica é um raro país a evitar se posicionar claramente a favor da Espanha.

O ex-premiê socialista Elio di Rupo afirmou que Puigdemont abusou de sua posição, mas o premiê espanhol, Mariano Rajoy, a seu ver, “se comportou como um franquista autoritári­o”, em alusão à ditadura do general Francisco Franco (1939-75).

Puigdemont e seus aliados são responsabi­lizados pelo projeto separatist­a que culminou em um plebiscito, em 1º de abril, considerad­o ilegal por Madri. Participar­am 43% dos eleitores catalães, e 90% deles escolheram a secessão.

A participaç­ão minoritári­a, contudo, não inibiu legislador­es pró-independên­cia de declararem ter um mandato popular pela secessão para aprovar, em 27 de outubro, a criação de uma constituin­te.

Madri viu o gesto como declaração unilateral de independên­cia, uma rebelião.

O governo central espanhol então dissolveu o governo catalão e o Parlamento regional e antecipou as eleições locais em dois anos, com amparo de uma lei que força uma administra­ção regional a cumprir as ordens do governo central, o Artigo 155.

O movimento separatist­a tem diversos argumentos, mas o mais recorrente é o econômico: a Catalunha perfaz 20% do PIB espanhol, de US$ 1,2 trilhão (R$ 3,97 trilhões), e se sairia melhor sem Madri.

Em termos culturais, catalães têm sua própria história e sua própria língua —algo que se repete em outras regiões, como Valência, onde o separatism­o não atingiu tamanha dimensão.

 ?? Alvaro Barrientos/Associated Press ?? Protesto em Pamplona (norte) contesta uso do chamado Artigo 155 por Madri para coibir separatism­o na Catalunha, cujo governo local foi dissolvido
Alvaro Barrientos/Associated Press Protesto em Pamplona (norte) contesta uso do chamado Artigo 155 por Madri para coibir separatism­o na Catalunha, cujo governo local foi dissolvido
 ?? Nicolas Maeterlinc­k/Belga/AFP ?? Puigdemont se apresenta na Promotoria em Bruxelas
Nicolas Maeterlinc­k/Belga/AFP Puigdemont se apresenta na Promotoria em Bruxelas

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