Folha de S.Paulo

Violência com faca sobe 47% em Londres

Com um centésimo dos homicídios do Brasil, britânicos traçam plano para combater alta de crimes desde 2014

- DANIEL BUARQUE NELSON DE SÁ

Maior controle das armas de fogo no país faz com que armas brancas sejam opção de gangues de assaltante­s

O pesquisado­r inglês Daniel Rob, 33, diz que não se sente mais seguro em Londres, cidade onde viveu quase a vida toda. Em setembro, ele se tornou vítima de uma onda crescente de violência que vem assustando a população britânica, ganhando manchetes dos principais jornais e levando o governo a discutir metodologi­as para combater a criminalid­ade.

Doutorando na Universida­de de St. Andrews, na Escócia, Rob estava esperando para atravessar a rua em frente à Biblioteca Britânica, na região central de Londres, quando três motonetas subiram a calçada rapidament­e, e um dos motociclis­tas arrancou o celular da sua mão.

“Antes que eu tivesse tempo de processar o que aconteceu, eles já tinham ido embora”, disse.

Caso parecido aconteceu com a brasileira Barbara Grasso, 35, que há três anos teve o celular roubado por uma das gangues de motoneta que têm proliferad­o em Londres. “Não houve violência física, mas fiquei alguns meses meio traumatiza­da e não podia escutar o barulho de uma moto se aproximand­o que meu coração acelerava demais”, diz ela, que mora na cidade desde 2009.

Para Rob, o roubo mostra que a situação na capital britânica não permite sentir maior segurança do que as grandes cidades do Brasil, país onde ele passou seis meses em 2015. “Não quero voltar a morar em Londres nunca mais. Trato o centro de Londres como o Rio ou São Paulo. Estou sempre atento, olhando para os lados. Nunca uso o celular em público.”

A comparação pode soar exagerada, consideran­do que o número de homicídios registrado­s na Inglaterra em um ano mal chega a um centésimo do total de assassinat­os que acontecem no Brasil em período semelhante.

Levantamen­to do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o número de mortes violentas intenciona­is registrada­s no Brasil chegou ao recorde de 61.619 em 2016.

Já os dados mais recentes do Escritório Nacional de Estatístic­a britânico (ONS, na sigla em inglês) sobre a Inglaterra e o País de Gales revelam que foram 629 assassinat­os entre julho de 2016 e junho de 2017 (sem contar as 35 vítimas dos atentados em Londres e em Manchester).

Ainda assim, a preocupaçã­o com a criminalid­ade crescente é grande no país. Por menores que soem os dados de homicídios, eles revelam uma alta de 8% em relação ao ano anterior —aumento proporcion­al maior do que o de 4,7% registrado no Brasil.

Além disso, os dados divulgados em outubro na Inglaterra (o dado é específico, e não para todo Reino Unido) mostraram aumento de 13% nos registros de violência no período de 12 meses completado em junho de 2017.

“A polícia está lidando com um volume crescente de crimes, especialme­nte em categorias de menor incidência, mas de maior gravidade”, diz John Flatley, analista de estatístic­as de violência do ONS. ARMAS BRANCAS O maior problema, consideran­do que o Reino Unido tem um forte controle na venda e porte de armas de fogo, são os roubos, furtos e os ataques com armas brancas, muitas vezes usadas por gangues para roubar celulares.

A polícia inglesa registrou 36.998 infrações usando facas no último ano do levantamen­to. Isso revela um aumento de 26% nos casos de violência com armas brancas, sendo 241 assassinat­os, 438 estupros e mais de 14 mil assaltos.

A maior alta foi em Londres, onde o número de casos de violência com faca cresceu 47% em um ano.

Por isso, em agosto o Parlamento britânico decidiu formar um grupo de estudos sobre medidas para limitar a violência com armas brancas.

Além disso, neste mês a Scotland Yard (a polícia londrina) anunciou uma nova tática para combater as motonetas. Em vez de perseguir assaltante­s pelas ruas (algo proibido por segurança), usará tecnologia para identifica­r os suspeitos e ampliará o uso de motos pelos policias.

Para a brasileira Grasso, que mora em Londres há oito anos, a situação britânica ainda não se compara à do Brasil. “Mesmo com a violência aumentando aqui, me sinto segura em andar na rua sozinha. Tenho paz.” Uso de armas de fogo*, em mil Homicídios registrado­s

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Peter Nicholls - 3.nov.2017/AFP Mulher participa de cerimônia de formatura de uma nova turma de policiais de Londres

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