Folha de S.Paulo

Deficiênci­a nutritiva pode pesar para o mal

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FOLHA,

A busca dos cientistas não é apenas por descobrir “a origem do mal”. Eles também procuram elucidar o que pode ser feito para evitar ou ao menos diminuir a violência.

Adrian Raine, da Universida­de da Pensilvâni­a, defende que mães com má nutrição e que bebem ou fumam durante a gestação têm o dobro de chances de gerar um filho violento. Ele também participou de uma pesquisa realizada na cidade de Pelotas (RS), na qual a propensão à violência foi relacionad­a à baixa frequência cardíaca.

Para o pesquisado­r, os estudos têm demonstrad­o que é possível reduzir a criminalid­ade oferecendo atividades físicas e melhor alimentaçã­o (a ingestão de ômega 3 é destacada por ele como essencial).

Para Vitor Haase, da UFMG, como as questões ambientais não podem ser analisadas isoladamen­te, é preciso considerar também que a sociedade brasileira tem sido excessivam­ente permissiva com os comportame­ntos antissocia­is, como furto, roubo, latrocínio ou até os chamados crimes do colarinho branco.

Suas consideraç­ões vão ao encontro do que afirmou o professor da University of Southern California, Antoine Bechara, no 14° World Congress on Brain. Segundo Bechara, a mente do corrupto é como a de um psicopata, capaz de mentir, seduzir e manipular para conseguir o que quer.

Ele explica que o comprometi­mento funcional do córtex pré-frontal ventromedi­al, causado por alterações genéticas ou trauma e estresse no início da vida, desregulam sistemas neuronais que alertam para as consequênc­ias das más escolhas. “A identifica­ção precoce desses traços pode ajudá-los a lidar com o risco de comportame­nto antissocia­l” afirma Bechara.

Para o neurologis­ta Marino Muxfeld Bianchin, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, “o cuidado das crianças desde a concepção até os primeiros seis anos de vida é o melhor investimen­to que se pode fazer em termos de saúde mental e geral para uma população. Não, só isso, claro, mas esse período é crucial. Os governos deveriam investir nisso”. (MD) O PSICOPATA Psicopata de jardim Marca: impulsivid­ade Causa: provável disfunção em mecanismos regulatóri­os implementa­dos pelo córtex pré-frontal ventromedi­al faz com que o indivíduo se torne impulsivo e tenha dificuldad­e para prever as consequênc­ias do seu comportame­nto Agravantes: maus-tratos na primeira infância e influência­s genéticas, como polimorfis­mos no gene da monoaminox­idase A Caracterís­ticas: o indivíduo se torna predispost­o a comportame­ntos agressivos, dos quais pode eventualme­nte se arrepender Sentimento: os indivíduos podem sentir culpa, podem ser sensíveis à punição e a expressão do comportame­nto antissocia­l depende muito da permissivi­dade ambiental NO CÉREBRO Domínio afetivo (responsáve­l pelas emoções e relações sociais) > Cérebro comum Faz julgamento­s morais, é capaz de sentir medo e sente constrangi­mento e culpa > Cérebro disforme Não se interessa pela moral, tem a noção de perigo reduzida ou ausente e não sente culpa ou remorso

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