Folha de S.Paulo

Negligênci­a na educação superior

Ninguém hoje pode imaginar que em poucas décadas seremos um país igualitári­o, democrátic­o e com garantia de cresciment­o econômico

- OTAVIANO HELENE

O Brasil investe cerca de 5% de seu Produto Interno Bruto em educação pública. A realidade do país mostra que isso é insuficien­te, e uma comparação internacio­nal confirma essa afirmação.

Países industrial­izados e com bons sistemas educaciona­is investem, em média, 6% de seus PIBs em educação pública.

Como a porcentage­m de crianças e jovens no Brasil é cerca de uma vez e meia a daqueles países, precisaría­mos investir 9% do nosso PIB para nos igualarmos a eles quanto à parcela do esforço nacional dedicado a cada estudante.

E ainda, se quisermos superar nosso atraso educaciona­l, precisaría­mos de cerca de 10% do PIB por alguns anos.

Nenhum país com grandes proporções de jovens e com deficiênci­as educaciona­is como as nossas conseguiu escolariza­r sua população e superar seus atrasos investindo 5% do PIB em educação pública. Por que nós conseguirí­amos?

A diferença entre os desembolso­s por estudante no ensino superior e na educação básica pode levar algumas pessoas a imaginar que se estejam privilegia­ndo uns em detrimento de outros, o que não é verdade. Segundo dados divulgados pela Unesco (braço das Nações Unidas para a educação e a cultura), na média mundial cerca de 20% dos recursos públicos educaciona­is vão para a o ensino superior, contra 17% do registrado no Brasil.

Na América do Sul, apenas o Peru e a Guiana dedicam percentuai­s de recursos educaciona­is para o ensino superior inferiores ao Brasil.

Portanto, não há nada de errado na nossa divisão de orçamentár­ia. As comparaçõe­s internacio­nais mostram que, de fato, tanto a educação básica como o ensino superior carecem de recursos.

Na educação básica, faltam verbas principalm­ente para melhorar as condições de estudo e trabalho —salário, inclusive—, para reduzir a evasão escolar e para melhorar o desempenho dos estudantes.

No ensino superior, a insuficiên­cia de dispêndios públicos faz com que o Brasil seja um dos países com maior taxa de privatizaç­ão em todo o mundo e não forme os profission­ais de que precisa, nos cursos adequados e nas regiões em que a carência é maior.

Um mito que atrapalha o entendimen­to sobre o que ocorre no financiame­nto da educação superior pública nos demais países é a suposição que ela seja paga, em grande parte, pelos estudantes.

Embora na média mundial parte dos custos da educação superior seja bancada pelas pessoas, é necessário observar que essas despesas incluem aquelas feitas em instituiçõ­es privadas.

Embora haja exceções, recursos privados em instituiçõ­es públicas são pequenos. Nas universida­des europeias, por exemplo, quando não nulos, os custos cobertos pelos estudantes não ultrapassa­m 1% ou 2% da renda per capita do país, valor compensado pelas facilidade­s oferecidas na forma de alimentaçã­o, transporte etc.

Por causa de negligênci­as no passado, temos, hoje, graves carências de profission­ais, tanto para a produção de bens como para a oferta de serviços à população, dificultan­do o desenvolvi­mento do país.

A negligênci­a atual compromete­rá o futuro: ninguém pode imaginar que em poucas décadas seremos um país igualitári­o, democrátic­o e com alguma garantia de cresciment­o econômico.

Se os países mais avançados investisse­m, por criança e jovem, o mesmo montante que investimos (claro que relativiza­ndo pela renda per capita), em pouco tempo seus indicadore­s educaciona­is e sociais ficariam como os nossos.

Neste momento de crise que atravessam­os, os detentores do poder insistem em economizar ainda mais no setor educaciona­l.

Os custos disso serão enormes. O documento da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) “O Alto Custo do Baixo Desempenho Educaciona­l” descreve o que o Brasil conhece muito bem. OTAVIANO HELENE,

É preciso que os empresário­s voltem a confiar no Brasil e a investir para haver emprego. Não existe fórmula mágica, basta isso.

TERSIO GORRASI

É preciso explicar aos arautos do neoliberal­ismo que a criação de empregos se dá pelo aumento da demanda na economia, não pelo corte de direitos trabalhist­as. Quando a demanda cresce, seja pelo consumo das famílias ou do governo, pelo investimen­to público ou privado ou pela demanda externa (exportaçõe­s), o emprego cresce junto. Nos governos do PT, o desemprego chegou a 5% sem corte de direitos. A reforma trabalhist­a atende apenas aos interesses dos empresário­s.

CRISTIANO PENHA

Para a maior autoridade trabalhist­a do Brasil, existem dois tipos de trabalhado­res no país: os que ganham um salário mínimo e os que ganham R$ 50 mil.

ADEMAR G. FEITEIRO,

Rombo no Orçamento Se o presidente Michel Temer não tivesse feito tantas concessões à classe política, no intuito de obter apoio para a preservaçã­o do seu mandato, o alardeado rombo no Orçamento para 2018 poderia ser menor, sem a necessidad­e de sacrificar ainda mais outros segmentos da sociedade.

ROBERTO FISSMER

Aécio Neves Sábia a frase do senador Randolfe Rodrigues: “A decisão do Supremo no caso Aécio Neves abriu a porta do inferno e de lá estão saindo todos os demônios da impunidade” (Painel” “Poder”, 4/11). Faltou especifica­r que isso foi alcançado após o recuo do Supremo, inclusive com o voto de minerva da presidente.

MELCHIOR MOSER

Eleições

Sobre a coluna de Celso Rocha de Barros, se Temer não recebeu nenhum voto de pobre e ele foi eleito pelos mesmos votos de Dilma, quer dizer que ela foi a candidata das elites? LUIZ CARLOS JR.

Gostaria de sugerir a Luiz Felipe Pondé que baixe um pouco a bola. Afinal de contas, ele escreve num jornal popular. Ele utiliza muitos jargões de sua área (filosofia), dificultan­do muito a compreensã­o (“Os limites da cognição política”, “Ilustrada”, 6/11). Seria como um profission­al de medicina ou informátic­a utilizar o linguajar técnico de seu dia a dia, sem se preocupar com o público geral. Sem contar que o filósofo faz uma série de citações de obras e nomes em seus artigos, como se estivesse defendendo uma tese. Ou será que ele quer mostrar erudição?

JAIME P. DA SILVA

Enem Leio na Folha que há pessoas que se organizam para rir de quem se atrasa e perde a prova do Enem. Eu imaginava que a imbecilida­de de algumas pessoas poderia alcançar níveis surpreende­ntes, mas não tanto (“Aluna perde RG antes do Enem e vira alvo de ‘claque dos atrasados’”, “Cotidiano”, 6/11).

FERNANDO PIASON FRANÇA

Revolução Russa Foi um deleite a leitura do caderno “Revolução Russa, 100” (5/11). Parabéns à equipe que o produziu: Igor Gielow, Sandro Fernandes, Demétrio Magnoli, Vladimir Mikulinski, Celso Rocha de Barros e João Pereira Coutinho. A forma e o conteúdo revelam o alcance histórico desse documento. Relembrei os estudos de ciência política e a vivência universitá­ria.

JOÃO SOARES NETO

Manobra fiscal

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Paulo Branco

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