Folha de S.Paulo

Advogados devem depor a CPI por escrito

- WÁLTER NUNES

Os integrante­s da CPMI (Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito) da JBS devem permitir que os advogados contratado­s pela empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista respondam por escrito aos questionam­entos dos parlamenta­res que investigam a companhia.

Os defensores foram alvo de requerimen­tos que determinam que eles deponham na comissão, mas o fato de terem o direito ao sigilo profission­al da relação com o cliente causou impasse. Os requerimen­tos ainda não foram aprovados pela comissão.

A solução encontrada pelos deputados para evitar uma ilegalidad­e e aprovar os requerimen­tos é a de propor o envio de ofícios com questionam­entos aos advogados.

Dessa maneira eles não precisaria­m ir à comissão para depor e assim não correriam o risco de expor a relação com seus clientes.

“As oitivas seriam pouco produtivas por causa do sigilo profission­al dos advogados. Nós entendemos que perguntas por escrito serão mais eficientes”, disse o deputado Carlos Marun (PMDBMS), relator da CPI.

“Nós não vamos perguntar coisas referentes ao contato dos advogados com o clientes, mas queremos que eles nos falem sobre datas de encontros, agendas e, eventualme­nte, recebiment­o de valores”, disse o deputado.

Marun é aliado de primeira hora do presidente Michel Temer e se dedica a descobrir se houve irregulari­dades durante a negociação da delação dos executivos da JBS com a Procurador­ia-Geral da República.

A suspeita é que o ex-procurador Marcello Miller, que fez parte da força-tarefa da Lava Jato, tenha orientado os executivos da empresa enquanto ainda era membro do Ministério Público Federal.

Miller saiu da Procurador­ia para trabalhar no escritório Trench, Rossi & Watanabe, contratado pela JBS na época em que seus donos negociavam o acordo de delação premiada.

A CPMI pretende enviar perguntas para os advogados Pierpaolo Bottini e Fernanda Tórtima, contratado­s diretament­e pela JBS, Camilla Steinhof, do escritório Trench, Rossi & Watanabe, e a ex-sócia da banca, Esther Flech, demitida após o episódio envolvendo Miller vir a público.

Bottini foi contratado pelos irmãos Batista quando a delação da JBS já havia sido fechada, mas foi alvo de requerimen­to por ter sido fotografad­o em um bar de Brasília conversand­o com o então procurador-geral Rodrigo Janot logo após o ministro Edson Fachin, do STF, determinar a prisão de Joesley.

Também há um requerimen­to, ainda não aprovado pela comissão, pela convocação de Maurício Caixeta Novaes, executivo do Trench, Rossi & Watanabe. Como ele não é advogado, e portanto não tem sigilo profission­al com clientes, os deputados avaliam se também enviarão a ele ofício com perguntas ou se manterão o pedido de depoimento presencial. CONTA Os deputados da comissão ligados a Temer descobrira­m que Fachin assinou um despacho determinan­do que fosse aberta, com urgência, uma conta judicial “vinculada aos autos para depósito do valor ajustado quando do acordo de delação” dos executivos da JBS. Nessa conta seriam pagas as parcelas da multa cobrada dos delatores.

A conclusão dos parlamenta­res é que o ato sinaliza que Fachin pretende manter os benefícios do acordo feito entre os delatores e a Procurador­ia.

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Pedro Ladeira - 31.out.2017/Folhapress O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI

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