Folha de S.Paulo

Temer já admite que não consegue aprovar a reforma da Previdênci­a

Peemedebis­ta tenta transferir para o Congresso ônus de eventual fracasso na proposta de mudança

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Maia diz que deputados estão contra a iniciativa e que governo não tem os votos necessário­s para alterar legislação

Ciente de que o governo não tem apoio suficiente para aprovar uma reforma da Previdênci­a, o presidente Michel Temer tentou transferir ao Congresso o ônus de um eventual fracasso da proposta, principal pilar de sua agenda de ajuste fiscal.

Nesta segunda-feira (6), ao falar na abertura de reunião com líderes da Câmara, Temer admitiu publicamen­te que a reforma pode não ser votada, mas disse que isso não inviabiliz­a o governo.

“Não é uma derrota eventual ou a não votação que inviabiliz­a o governo, porque o governo já se fez, já foi feito e continuará a ser feito.”

Em conversas com aliados no fim de semana, o presidente constatou que o debate sobre as novas regras de aposentado­ria chegou a uma encruzilha­da: a pouco mais de um mês do fim do ano legislativ­o, o Planalto não conseguiu angariar os 308 votos necessário­s na Câmara para aprovar a medida e considera que o assunto ficará interditad­o com as pressões eleitorais de 2018.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), também afirmaram que os deputados estão contra a iniciativa e que o governo não tem os votos necessário­s para a aprovação da reforma na Casa.

Nesta segunda, Temer foi assertivo ao dizer quer a responsabi­lidade pela reforma deve ser compartilh­ada com o Congresso. Ele jogou para os deputados o peso de uma possível derrota. “[Se] o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência.”

O presidente disse que continuará a defender a aprovação da iniciativa, mesmo que a população, a imprensa e o Congresso sejam contrários.

Segundo Temer, o importante é que seja feito algum avanço na área, ainda que o texto aprovado não seja o conjunto de medidas proposto inicialmen­te. “Vou trabalhar muito por ela. Embora a gente não consiga fazer todo o conjunto que a reforma propõe, quem sabe consigamos fazer um avanço.”

Na interpreta­ção de auxiliares, o discurso é um movimento para evitar que o revés da principal bandeira de seu governo contamine o que considera o restante do seu legado, em especial a estabiliza­ção da economia. Caso a Previdênci­a não avance, argumentam esses assessores, o presidente quer deixar claro que essa foi uma opção exclusiva do Congresso.

Faz parte da estratégia o esforço público de articulaçã­o para retomar o debate sobre a reforma e preservar o compromiss­o estabeleci­do com o mercado desde sua posse.

Temer até pediu aos líderes da base que consultass­em suas bancadas para medir o apoio a uma versão mais enxuta da proposta, mesmo sabendo que boa parte de sua coalizão não comprará a ideia.

O governo, assim, transmite a imagem de que fará uma tentativa final, mas não dará murro em ponta de faca, nas palavras de um aliado.

Apesar das avaliações pessimista­s da ala política, a equipe econômica continuará empenhada em ecoar um cenário dramático para convencer o Congresso da importânci­a da reforma. Henrique Meirelles (Fazenda) disse aos deputados que, caso a medida não avance, pode ser necessária uma alta de impostos na ordem de 10%. (GUSTAVO URIBE, MARINA DIAS, BRUNO BOGHOSSIAN E ANGELA BOLDRINI)

DE BRASÍLIA

O presidente Michel Temer deu aval ao Congresso para mudar o percentual dos royalties pagos por empresas sobre a exploração de minério de ferro, de acordo com o novo marco regulatóri­o do setor.

Sob o temor de que a mudança não avançasse no Congresso, o governo concordou com um pedido de líderes da base aliada para alterar uma das medidas provisória­s em tramitação sobre o tema e diminuir de 4% para 3% a alíquota da CFEM (Compensaçã­o Financeira pela Exploração de Recursos Minerais).

A CFEM é a taxa paga pelas mineradora­s pelo direito de explorar o solo.

O texto original da MP, de julho, estabelece­u uma alíquota flutuante para os royalties de 2% a 4%, com base no preço do minério de ferro no mercado internacio­nal —quanto maior a cotação, maior seria a taxa.

A comissão do Congresso que analisou o assunto no fim do mês passado, entretanto, mudou a tabela da CFEM e aprovou a cobrança de um percentual fixo de 4%.

O texto foi enviado ao plenário da Câmara sob forte oposição das grandes mineradora­s, que rejeitaram o aumento dessa alíquota. Antes da edição da medida provisória, as empresas pagavam 2% sobre a exploração do ferro. (BRUNO BOGHOSSIAN)

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Marcos Corrêa/PR O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o presidente Michel Temer durante reunião em Brasília nesta segunda

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