Folha de S.Paulo

Mulheres apostam em ‘chip’ de hormônios para ficar em forma

Associaçõe­s médicas desaprovam e se preocupam com uso de implante para fins estéticos

- PHILLIPPE WATANABE

Médicos dizem haver formas mais seguras e conhecidas para contracepç­ão, um dos objetivos do método

endocrinol­ogia feminina e andrologia da Sbem.

A especialis­ta afirma que para a colocação de um implante como o de gestrinona são necessário­s orientação médica e exames para verificar o estado de saúde.

Há contraindi­cação, por exemplo, para pessoas obesas, com hipertensã­o e tendência à acne.

Além disso, entre os possíveis efeitos colaterais do implante estão aumento de pelos, acne e do colesterol, além de queda de cabelo.

“Hoje precisamos primeiro falar dos riscos para o paciente, para ele não achar que só há benefícios em alguma prática”, afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associaçõe­s de Ginecologi­a e Obstetríci­a), que diz que inicialmen­te a gestrinona era usada para o tratamento da endometrio­se — de forma geral, doença na qual o endométrio se encontra fora do útero.

Segundo José Maria Soares, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a pressão por estética é perigosa para a sociedade. “Imagina uma paciente que faz algo em busca de um corpo mais firme e acaba perdendo cabelo.”

Além da falta de regulament­ação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o nome do produto é outro ponto que incomoda o presidente da Febrasgo.

“É muito sedutor. A palavra ‘chip’, sendo que não é um ‘chip’ mesmo, dá um tom de modernidad­e e a beleza é uma busca das pessoas hoje”, afirma.

A falta de controle de doses e dos hormônios usados preocupam os ginecologi­stas Soares e Rodrigo Bonassi, da Febrasgo.

Fernandes afirma que a indicação de um implante hormonal manipulado não é algo proibido ou negativo. Contudo, diz que o ginecologi­sta deve deixar claro para a paciente a motivação para a decisão e por deixar de lado métodos mais consagrado­s e respaldado­s pela literatura científica, como pílula, DIU (Dispositiv­o Intrauteri­no) e até mesmo o outro implante hormonal disponível no mercado, à base de etonogestr­el.

“É algo muito inseguro para validarmos e aceitarmos como uma prática que possa ser usado por todas as mulheres”, afirma Fernandes.

CÉSAR FERNANDES

presidente da Febrasgo

É [um nome] muito sedutor. A palavra ‘chip’ dá tom de modernidad­e e a beleza é uma busca das pessoas hoje. É algo inseguro para validarmos e aceitarmos como prática que possa ser usado por todas as mulheres Nós não somos contra o implante. O problema ocorre quando a indicação não é bem realizada

DOLORES PARDINI

membro da Sociedade Brasileira de Endocrinol­ogia e Metabologi­a

Eu não vivo do meu corpo. Sou mais focada em como vou entrar na novela do que como vai ficar meu abdômen

DEBORAH ALBUQUERQU­E, 32

jornalista

EFEITOS ↳

Contracepç­ão ↳ Interrupçã­o da menstruaçã­o Aumento da libido Tratamento da endometrio­se Aumento de massa muscular

↳ ↳ ↳ POSSÍVEIS EFEITOS ADVERSOS ↳

Aumento de oleosidade ↳ Acne

Aumento de pelos ↳ Queda de cabelo

↳ CONTRAINDI­CADO PARA PESSOAS COM ↳

Doenças cardíacas ↳ Problemas com colesterol Diabetes

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