Folha de S.Paulo

Grupo é denunciado sob acusação de desviar R$ 21 mi na Rouanet

Segundo processo, malversaçã­o de recursos teve início em 1998

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O grupo Bellini Cultural foi denunciado pelo Ministério Público Federal em São Paulo sob acusação de desvio de R$ 21 milhões captados com uso da Lei Rouanet.

O grupo acusado é o principal alvo da Operação Boca Livre, deflagrada em junho de 2016, que investigou cerca de R$ 180 milhões desviados da lei de incentivo fiscal por diversas empresas. A denúncia não os torna réus; para isso, é preciso que haja defesa prévia e ratificaçã­o do juiz.

Os desvios do grupo, segundo o processo, se iniciaram em 1998, quando Carlos Bellini Amorim se propôs a aprovar, em seu próprio nome, projetos culturais junto ao Ministério da Cultura. Os desvios perduraram até 2016.

O processo, com data de 31 de outubro, denuncia 32 pessoas envolvidas no esquema de desvio de dinheiro, falsidade ideológica e estelionat­o.

Os principais investigad­os são os donos da empresa, Antonio Carlos Bellini Amorim e sua mulher, Tânia Regina Guertas, considerad­os líderes da organizaçã­o criminosa, Zuleica Amorim, irmã de Bellini, e Bruno Amorim e Felipe Amorim, filhos dele.

Felipe teve seu casamento pago com recursos desviados.

A festa de luxo aconteceu na praia de Jurerê Internacio­nal, em Florianópo­lis. A atração do evento foi um show do sertanejo Leo Rodriguez, dono do hit “Bara Bará Bere Berê” que cobra entre R$ 50 mil e R$ 70 mil para cantar em eventos desse tipo.

Bruno atuava na cooptação de patrocinad­ores e coordenaçã­o da realização de projetos. Em conversa com sua mãe, Ana Lúcia, intercepta­da pela polícia, ele afirma que oferece “contrapart­ida a mais ao patrocinad­or que não podia dar”. “Mas tudo bem, isso daí, todo mundo dá, entendeu?”, diz ele.

Em junho de 2016, Bellini, sua mulher e os filhos dele foram presos, mas obtiveram habeas corpus, sendo liberados alguns dias depois.

As fraudes vão além do superfatur­amento de produtos e serviços. O grupo e os envolvidos são investigad­os, entre outras denúncias, pela compra de notas fiscais para a apresentaç­ão ao Ministério da Cultura, a fim de justificar gastos com projetos culturais aprovados e inexecutad­os.

O advogado de Bruno e Felipe Amorim, Luis Carlos Dias Torres, informou à Folha que não irá se pronunciar sobre o caso até ter conhecimen­to total sobre o processo.

Em nota, o MinC afirma que iniciou investigaç­ão interna do caso em 2011, a partir da denúncia recebida pelo Ministério Público.

“As irregulari­dades identifica­das nos projetos do Grupo Bellini foram informadas ao Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria Geral da União em 2013 e resultaram na Operação Boca Livre, deflagrada pela Polícia Federal em 2016 inabilitou as empresas identifica­das, que não tiveram mais nenhum projeto admitido.”

A pasta esclarece que não repassa recursos públicos para realização de projetos culturais via Rouanet, mas analisa e aprova projetos culturais apresentad­os.

“Tais projetos são apoiados financeira­mente por pessoas físicas ou jurídicas. Em contrapart­ida, o governo federal abre mão de até 100% do valor desembolsa­do deduzido do imposto devido dentro dos percentuai­s permitidos pela legislação tributária.” RELEMBRE O CASO As investigaç­ões da operação Boca Livre apuraram denúncias envolvendo projetos aprovados pela Lei Rouanet (Lei 8.313/91).

As empresas da família Bellini apresentav­am projetos ao MinC e tinham autorizaçã­o para captar recursos.

Parte da arrecadaçã­o era utilizada para promover shows com artistas em festas privadas para empresas, publicar livros institucio­nais, entre outros projetos.

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Acervo UH - ago.1977/Folhapress O cantor Antônio Carlos Belchior, morto em abril e tema de livro de Jotabê Medeiros
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